sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Qual órgão público municipal é você?




O som de seus passos duros ecoava no concreto frio da Avenida São João. Não havia nada além deles, correndo aflitos na calada da noite. Sua respiração ofegava, e era possível sentir seu sangue pulsar intensamente em suas orelhas. Seus cabelos esvoaçavam, junto com eles ia sua esperança.
São Paulo, agora, morria, sangrava e desfalecia aos seus calcanhares. Sua luta e sua fé de nada adiantariam se não encontrasse, justamente daquela vez, um jeito de fugir. Ele sabia que eles aproximavam, não por sons, mas pelo medo que percorria seu corpo quando delineado por suas lanternas.
Com as luzes ainda tocando suas formas, ouviu os passos pesados das botas de couro. Ele não sentiu quando o primeiro golpe de madeira lhe atingiu as costas; simplesmente caiu. Não por desistir, seu corpo, agora, não lhe pertencia mais. “Talvez isso seja bom”, pensou ele, “de que vale a carne, afinal?”. E esperou.
Os cabelos, antes molhados de suor, enruiveciam com o sangue que escorria por sua face. As costelas o incomodavam, assim como os joelhos, mas ao abrir os olhos, vislumbrou o céu por uma fresta no porta-malas do carro, e agradeceu. Degustou da própria força, e sentiu-se vivo, uma vez mais.
Arremessado no chão gelado, escorregando pelo concreto, deparou-se com uma obstrução em seu caminho natural. Apoiou-se e tentou se levantar, facilitando o trabalho deles. Os punhos unidos eram amarrados na barreira, localizada no meio do cômodo; o rosto de um deles ficou próximo ao seu. De todas as alternativas possíveis, ele escolheu a mais perigosa: encarou-o. Não seriamente, nem com raiva ou medo. Com um sentimento inesperado, até para ele: compaixão. O outro, assustado e indeciso com tal reação perdeu parte de sua armadura – se perdia sua identificação: General.
Esta seria a primeira vez que Nélson de Souza fugia da prisão, mas não da tortura, militar.

Idéias mal elaboradas não sustentam revoluções. Indague: pelo que vale a pena lutar? Pelo que vale uma revolução? Pelo que vale a repetição do levante de armas mais significativo da história do nosso País?
Justiça? Moradia? Assistência Social? Fome? Estudo? Liberdade? Acessibilidade? As causas são várias, as soluções poucas e a culpa fácil.
No entanto, o que você pode fazer em relação a isso?
Quantas pessoas, eu me pergunto, já se questionaram isso? X
Quantas destas, realmente, tinham a intenção de fazer algo a respeito? Y
Quantas destas tentaram tiveram dúvidas por onde começar? Z
Quantas destas buscaram soluções para os questionamentos? W
Quantas destas estudaram os Órgãos Públicos?

--- Quantos de nós, jornalistas, já vasculhamos o site da Prefeitura de São Paulo hoje?
Quantos sabemos as informações disponíveis nesta ferramenta pública? Quantos NUNCA haviam pensado nisso antes?
O preparo e organização são as armas disponíveis hoje. Transparência é direito e atitude é dever. Busque, organize e revolucione o seu bairro, por exemplo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A América Latina e o fim do liberalismo social


Por James Petras

A actual recessão mundial e a potencial recuperação de alguns países revela todas as fraquezas das tradicionais doutrinas das vantagens comparativas, o "mercado de exportação", o livre comércio. Em nenhum outro lugar isto é mais evidente do que na experiência recente da América Latina.

Apesar de recentes levantamentos populares e da ascensão de regimes de centro-esquerda na maior parte dos países na região, as estruturas económicas, estratégias e políticas prosseguidas seguem as pisadas das suas antecessoras, particularmente em relação às práticas económicas com o estrangeiro.

Influenciada pela procura acentuada e a subida dos preços das commodities, especialmente produtos agro-minerais e de energia, os regimes latino-americanos, recuaram em relação a quaisquer mudanças em várias áreas cruciais e adaptaram-se às políticas e económicas legadas pelos seus antecessores neoliberais. Em consequência, com a vasta recessão mundial principiada em 2008, eles sofreram um declínio económico agudo com graves consequências sociais.

As crises socioeconómicas resultantes proporcionam lições importantes e reforçam a noção de que mudanças estruturais profundas no investimento, comércio, propriedade de sectores económicos estratégicos são essenciais para o crescimento sustentado e equitativo.

O mercado livre, doutrina do livre comércio: a década de 1990

A partir de meados da década de 1970, com o advento de regimes pró militares estado-unidenses e de regimes autoritários civis e sob a tutela de académicos dos EUA e economistas ali educados, a América Latina tornou-se um laboratório para a aplicação de políticas livre mercado – livre comércio.

Barreiras comerciais foram reduzidas ou eliminadas, de modo que produtos agrícolas subsidiados dos EUA e da União Europeia entraram sem entraves, dizimando a produção alimentar de pequenos agricultores que produziam para consumo local. Sob a doutrina da "vantagem comparativa" decisores políticos financiaram e promoveram empresas de agro-negócios em grande escala especializadas em produtos de exportação – trigo, soja, açúcar, milho, gado, etc apostando nos preços favoráveis, acesso a mercado favorável e preços razoáveis de alimentos, equipamento agrícolas e importações não agrícolas.

A desregulamentação total da economia e a privatização de empresas públicas abriu as comportas ao investimento estrangeiro, à tomada de sectores económicos estratégicos e ao aumento da dependência do investimento estrangeiro para sustentar o crescimento e a balança de pagamentos.

A estratégia geral dos regimes era confiar nos mercados de exportação, a expensas do aprofundamento e ampliação dos mercados internos (consumo local em massa); uma política que confiava no embaratecimento dos custos do trabalho local e na sustentação de altos lucros para a classe dominante agro-mineral. A presença desta última em todos os ministérios económicos chave dos regime assegurava que às políticas ao seu serviço fosse dado um verniz ideológico com a noção de "mercados racionais eficientes", deixando de notar a história a longo prazo da instabilidade intrínseca dos mercados mundiais.

Crises dos regimes tradicionais neoliberais

O sistema financeiro desregulamentado e a recessão mundial de 2000-2001, o saqueio selvagem da economia e do tesouro pelos praticantes do mercado livre, a corrupção monumental e a exploração sem peias de trabalhadores, camponeses e empregados públicos produziu revoltas na vasta região. Toda uma série de regimes eleitorais apoiados pelos EUA foram derrubado e/ou derrotados em competições eleitorais. O Equador, Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai e Paraguai testemunharam levantamentos populares, os quais entretanto acabaram por levar à eleição de regimes centro-esquerda, especialmente em campanhas eleitorais que prometiam "profunda mudança estrutural", incluindo mudanças na estrutura económica do poder e aumentos substanciais nos gastos sociais bem como a redistribuição de terra nas zonas rurais.

Na prática as derrotas políticas dos partidos estabelecidos da direita, e a enfraquecida elite económica, não serviam de base para transformações socioeconómicas em grande escala e a longo prazo. Os novos regimes de centro-esquerda buscavam políticas socioeconómicas que procuravam "reformar" as elites económicas forçando-as a acomodarem-se aos seus esforços para reactivar a economia e subsidiar o pobres e desempregados. As elites políticas foram retiradas dos gabinetes, uns poucos dos responsáveis mais venais implicados na repressão em massa foram postos em tribunal mas sem quaisquer sérios esforços para transformar o partido – sistema político. Por outras palavras, o fim das elites neoliberais nas crise, induzido pelas políticas de livre mercado, mantidas no lugar, temporariamente suspensas pelos regimes de centro-esquerda com políticas de administração de crise intervencionistas do Estado.

Políticas de centro-esquerda: A administração de crise e o boom económico

Os novos governos centro-esquerda adoptaram toda uma série de políticas que iam desde incentivos económicos aos negócios, regulações financeiras, despesas acrescida em programas de pobreza, aumentos de salários generalizados e consulta a líderes de organizações populares. Eles repudiaram os políticos inimigos e os criminosos do período anterior juntamente com a intervenção numas poucas empresas privadas em bancarrota. Estas políticas simbólicas e sólidas asseguraram, temporariamente, o apoio da massa do eleitorado e isolaram e dividiram os sectores mais radicais dos movimentos populares.

No entanto, exigências de mudanças mais vastas e mais profundas ainda estavam na agenda das massas enquanto os regimes de centro esquerda tentavam equilibrar-se entre exigências radicais dos de baixo e os seus compromissos políticos para normalizar e estimular o desenvolvimento capitalista, incluindo todas as elites existentes (elites multinacionais estrangeiras, agro-minerais, finanças, comerciais e manufactureiras). O dilema do centro-esquerda foi resolvido pela súbita alta nos preços das commodities, em grande parte estimulada pela procura dinâmica e o crescimento das economias asiáticas, nomeadamente da China.

Os regimes de centro esquerda abandonaram então todos os pretextos de busca de mudança estrutural e saltaram para o comboio do "crescimento conduzido pela exportação" – com base na exportação de produtos primários. Abandonando a crítica ao investimento estrangeiro e exigências de "renacionalizar" firmas privadas estratégicas, os regimes de centro esquerda abriram a porta a entradas de capital estrangeiro em grande escala – suspendendo a aplicação de alguns dos seus controles regulamentares.

O boom das commodities de 2003-2008 permitiu aos regimes de centro esquerda (e aos de direita) "comprarem" a oposição: sindicatos receberam substanciais aumentos de salários, negócios receberam incentivos substanciais, investidores estrangeiros foram saudados, remessas de trabalhadores expatriados foram encorajadas, como contribuições para a redução da pobreza.

Numa palavra: todo o edifício socioeconómico da estratégia da América Latina de alto crescimento económico orientado pelas exportações repousava na procura do mercado mundial e nas condições económicas nos países imperiais. Poucos dos peritos económicos, colunistas financeiros e celebrantes políticos dos "mercados racionais" exprimiram quaisquer dúvidas acerca da sustentabilidade do modelo "mercado de exportação".

A extraordinárias vulnerabilidade destas economias, a sua dependência de mercados voláteis, a sua dependência sobre um número limitado de produtos de exportação, a sua dependência sobre um ou dois mercado, a sua dependência das remessas dos mais precários trabalhadores expatriados deveriam ter levantado uma bandeira vermelha para qualquer economista e decisor político que pensasse. Os consultores de alto preço e as missões de aconselhamento estrangeiras da Harvard Business School, da Penn's Wharton School e de outros centros prestigiosos de ensino superior (enamorados das suas equações matemáticas as quais demonstravam quais eram as suas premissas) argumentavam que mercados minimamente regulados são os que têm mais êxito e convenceram seus parceiros latino-americanos do centro-esquerda à direita a reduzir barreiras comerciais e permitir o fluxo de capital.

Após apenas cinco anos de rápido crescimento induzido pelo mercado de exportação, as economias latino-americanas entraram em crash. Segundo a Comissão Económica das Nações Unidas para a América Latina, as exportações dos países latino-americanos e caribenhos em 2009 mostrarão a queda mais aguda ao longo de mais de 72 anos (desde a última depressão mundial). As exportações regionais declinarão 11% em volume, ao passo que as importações cairão 14%, a maior queda desde a recessão mundial de 1982.

Armadilhas da especialização em exportações de commodities

As datas de referência são indicativas dos compromissos seculares e das vulnerabilidades na estrutura comercial: as recessões passadas e presentes têm um impacto agudo sobre a América Latina porque tanto agora como no passado as suas economias dependem de exportações agro-minerais para mercados imperiais, os quais rapidamente comutam as suas crises internas para os seus parceiros comerciais latino-americanos. O declínio histórico no comércio inevitavelmente duplica e triplica a taxa de desemprego entre os trabalhadores dos sectores de exportação e tem um efeito multiplicador sobre empresas económicas satélite ligadas às despesas e aos consumos gerados pelo comércio além-mar. A especialização em exportações agro-minerais limita as possibilidades de emprego alternativo de um modo que uma economia mais diversificada não faz. A dependência do Estado, para a maior parte das suas receitas, das exportações de agro-minerais e de energia significa cortes automáticos no investimento público e nas despesas com serviços sociais.

As crises comerciais da América Latina afectaram especialmente aqueles países com produtos de exportação mais tradicionais em commodities agrícolas, minerais e energéticas: Venezuela e Equador (petróleo), Colômbia (petróleo e carvão) e Bolívia experimentaram um declínio de até 33% em 2009, muito acima da média para a região. O México, dependente em 80% do seu comércio com os EUA (petróleo, turismo, remessas, automóveis) experimentou o maior declínio, 11% do PIB, de todos os países do hemisfério.

Se bem que todas as economias conduzidas pela exportação fossem atingidas pelas crises, aqueles países que tinham um mix comercial mais diversificado (manufacturas, agricultura, serviços) caíram em aproximadamente 20% ao passo que os países que se especializaram em exportações de petróleo e minerais caíram mais de 50%.

Armadilhas da dependência a um único mercado

Os países com uma maior diversidade de mercados e parceiros comerciais, especialmente aqueles que comerciavam dentro da zona latino-americana e com a China, experimentaram um declínio mais reduzido em comparação com aqueles, como o México, Venezuela e América Central, que dependiam dos mercados dos EUA e da União Europeia, que caíram em mais de 35%.

O comércio foi apenas uma das quatro frentes que impactaram negativamente a América Latina. O investimento directo estrangeiro, as remessas de trabalhadores do estrangeiro e os preços das commodities contribuíram para as crises.

Armadilhas da dependência do investimento estrangeiro

As portas abertas da América Latina ao investimento estrangeiro (IE) foram uma causa importante da crise. O fluxo de IE escalou em resposta ao crescimento interno da América Latina, aproveitando-se dos altos lucros gerados pelo boom comercial de commodities. Com o declínio do comércio, rendimentos e lucros, o IE saiu, repatriou lucros e desinvestiu, exacerbando as crises a aumentando o desemprego. O IE segue as práticas de entrada fácil e retirada rápida – um meio de desenvolvimento altamente inconfiável e volátil.

Armadilhas da dependência das remessas de além-mar

Os regimes latino-americanos consideraram como certos e construíram dentro das suas políticas económicas e projecções transferências de muitos milhares de milhões de dólares de rendimentos de trabalhadores além-mar, fazendo vista grossa à posição legal e económica altamente vulnerável dos seus cidadãos que trabalham no exterior. A vasta maioria dos trabalhadores além-mar está em posições muito vulneráveis: muitos não estão documentados ("imigrantes ilegais") e durante recessões ou baixas económicas são abruptamente despedidos. Em segundo lugar trabalham em sectores como construção, turismo, jardinagem e limpeza, os quais são duramente atingidos pelas recessões. Em terceiro têm pouca ou nenhuma antiguidade e são "os últimos contratados e os primeiros despedidos". Em quarto, muitos não podem receber seguro de desemprego e enfrentam a deportação se não puderem sustentar-se. Os resultados da alta vulnerabilidade dos trabalhadores no estrangeiro são visíveis no declínio de muito milhares de milhões de dólares nas remessas para a América Latina, exacerbando a pobreza e inclinando a balança de pagamentos no vermelho.

Volatilidade dos preços das commodities

Ao colocar todos os seus ovos no cabaz dos preços altos das commodities e dos mercados além-mar, os governos do centro-esquerda perderam uma grande oportunidade para aprofundarem o seu mercado interno via industrialização por substituição de importações, reforma agrária e investimentos público em infraestrutura ligando agricultura – mineração – manufactura e fontes de energia numa "rede" para proteger a economia nacional de crises induzidas externamente.

Os limites do social liberalismo ("centro-esquerda") e as crises económicas

Durante a primeira década do novo milénio os regimes de centro-esquerda recém cunhados alinharam-se contra o neoliberalismo e chegaram a identificar-se como os socialistas do "século XXI". Na prática o que isto significou foi atar aumentos em despesas sociais às estruturas económicas políticas comerciais existentes, com alguns ajustamentos em parceiros comerciais e em alguns casos "joint-ventures" com investidores estrangeiros. Durante o período todo o conjunto de regime praticou políticas sociais liberais familiares a observadores dos regimes social-democratas europeus contemporâneos: eles combinaram livre comércio e uma porta aberta ao investimento estrangeiro com gastos maiores em programas anti-pobreza, benefícios de desemprego e aumentos no salário mínimo. Por outro lado vastos lucros acumularam-se nas mãos das elites agro-minerais e do sector bancário, o qual financiou comércio, consumo e rolagem da dívida.

Todo o modelo social liberal continuou entretanto sobre os fundamentos frágeis das crises dependentes da estratégia de exportações de commodities, receitas comerciais altamente voláteis e rendimento de vulneráveis trabalhadores além-mar. Quando os mercados de exportações latino-americanos secaram e os preços das commodities caíram, as receitas declinaram e trabalhadores foram despedidos. O modelo social liberal entrou em colapso com crescimento negativo e os ganhos anteriores em emprego e redução da pobreza foram revertidos.

Lições do colapso do modelo social liberal

Várias lições importantes podem ser retiradas da experiência em curso de regimes social-liberais.

1. Programas sociais positivos não são sustentáveis sem mudanças estruturais, as quais diminuem a vulnerabilidade externa .

2. Reduzir a vulnerabilidade externa depende da propriedade pública dos sectores económicos estratégicos a fim de evitar fugas de capital, o comportamento típico do capital com base no estrangeiro.

3. Reduzir a vulnerabilidade económica depende de diversificar mercados para longe dos centros imperiais infestados de crises e controlados financeiramente. Maior sustentabilidade económica depende do aprofundamento do mercado interno, aumento do comércio intra-regional e redireccionamento do comércio rumo a regiões de crescimento alto.

4. Despesas sociais são paliativos necessários no imediato mas não vão à raiz da pobreza e dos rendimentos baixos. Programas de distribuição de terra de grande amplitude ligados ao desenvolvimento em grande escala com financiamento e investimento da produção alimentar local e em indústrias internas que complementem e se associem à produção agro-mineral diminuirão a dependência de mercados além-mar e estabilizarão a economia.

5. O controle estatal do comércio estrangeiro e das empregas minerais estratégicas permite a captura do excedente económico para financiar a diversificação económica e a inovação.

6. A integração regional tem de passar das declarações retóricas ao desempenho e prática reais. O presidente Chavez da Venezuela, o principal advogado da integração regional e promotor da Associação Bolivariana da América Latina (ALBA), ainda depende dos mercados dos EUA para 80% da sua venda de petróleo e 70% das receitas de exportação do petróleo, e mais de 50% das suas importações alimentares da Colômbia, cliente militar dos EUA. A integração regional é factível com base no planeamento de investimentos complementares e empreendimentos públicos conjuntos na industrialização de minerais, petróleo e outras commodities primárias.

7. Pactos de segurança entre regimes latino-americanos destinados a reagir às bases militares colombianas dos EUA e à estratégia de militarização estado-unidense também podem ter uma função económica – criar indústrias joint-venture de armamentos e reduzir compras externas.

8. A diversificação do comércio com a Ásia e a diminuição da dependência dos EUA e da UE é necessária mas insuficiente se o conteúdo exportado continuar a ser predominantemente mercadorias primárias. Mudar parceiros comerciais mas perpetuar padrões comerciais de "estilo colonial" não diminuirá a vulnerabilidade. A América Latina, especialmente a Bolívia, Brasil, Peru e Equador, devem insistir em que os seus produtos primários sejam industrializados e seja acrescentado valor antes de serem exportados para a China, Índia, Japão e Coreia.

Em resumo: a actual crise mundial revela as limitações e insustentabilidade das políticas e regimes sociais-liberais. No reconhecimento das vulnerabilidades e da volatilidade jaz o fundamento para uma transformação estrutural completa com base em mudanças na posse da terra, nos padrões comerciais e na propriedade de indústrias estratégicas. A crise actual desacreditou tanto as receitas neoliberais como sociais-liberais e abre a porta para um novo pensamento que liga despesas sociais com propriedade social.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quem foi Astrojildo Pereira?


Astrojildo Pereira Duarte Silva nasceu em Rio Bonito (RJ), em 1890. Ainda jovem iniciou sua militância em organizações operárias de orientação anarquista, tendo sido um dos promotores, em 1913, do II Congresso Operário Brasileiro. Iniciou na imprensa operária sua carreira de jornalista, atividade a que se dedicaria durante a maior parte de sua vida. No final de 1918, participou dos preparativos de uma frustrada insurreição anarquista e, por conta disso, foi preso.
Com a vitória da Revolução Russa, em 1917, começou a afastar-se do anarquismo.

Em 1922, participou do congresso de fundação do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), em Niterói (RJ). Em seguida, foi eleito secretário-geral da nova organização e nessa condição fez sua primeira viagem à União Soviética, em 1924. No ano seguinte, o PCB iniciou a publicação do jornal A Classe Operária, que teve Astrojildo e Otávio Brandão como principais redatores. Em 1927, encarregado pela direção do partido de buscar contato com Luís Carlos Prestes, exilado na Bolívia, para propor-lhe entendimentos políticos, entregou ao líder tenentista, nessa ocasião, diversos volumes de literatura marxista. Ainda nesse ano o PCB passou a estimular uma política de frente eleitoral com outros setores de esquerda, o que acabou resultando na criação do Bloco Operário, posteriormente rebatizado de Bloco Operário e Camponês (BOC). Em 1928, passou a fazer parte do Comitê Executivo da Internacional Comunista, eleito no VI Congresso da entidade.

Entre fevereiro de 1929 e janeiro de 1930 permaneceu em Moscou, de onde voltou com a orientação de proletarizar o PCB, ou seja, promover a substituição dos intelectuais da direção do partido por operários. Em novembro de 1930, o processo de proletarização acabou atingindo o próprio Astrojildo, que foi afastado da secretaria-geral. No ano seguinte, desligou-se do PCB, após breve período de atuação junto ao seu Comitê Regional de São Paulo.

A partir de então, dedicou-se durante muitos anos aos negócios particulares herdados do pai e, já como crítico literário reconhecido, colaborou no jornal carioca Diário de Notícias e na revista Diretrizes. Em 1944, publicou Interpretações, obra em que reunia estudos sobre literatura, com destaque para o artigo "Machado de Assis, romancista do Segundo Reinado".

Em 1945, foi delegado do Estado do Rio ao I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em São Paulo, e um dos redatores da declaração de princípios do encontro, marcada por críticas à ditadura de Vargas. Ainda em 1945, retornou ao PCB e, desde então, passou a colaborar intensamente com a imprensa partidária. Dirigiu as revistas Literatura, Problemas do Socialismo e Estudos Sociais, e colaborou com o jornal Imprensa Popular e com a revista Novos Rumos. Em 1964, foi preso após o golpe militar daquele ano, tendo permanecido na prisão por três meses, já em estado de saúde precário.

Morreu no Rio de Janeiro, em 1965.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Entrevista com Hugo Chávez: "Temos direito a nos defender"


Por Francisco Peregil
EL PAÍS

Hugo Chávez acabava de se encontrar com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, no Palácio de la Moncloa, e depois no Palácio de La Zarzuela com o rei Juan Carlos. Chávez acabava de saber durante seu encontro com Zapatero o que ele qualificou como uma "notícia-bomba": a descoberta na Venezuela de reservas de gás exploradas a meias pela companhia de petróleo venezuelana PDVSA e a espanhola Repsol. Trata-se da maior descoberta de gás da história da Repsol. No terceiro andar da biblioteca, encontrava-se o presidente da empresa espanhola, Antonio Brufau, com quem Chávez queria conversar a caminho do aeroporto.

Enquanto se realizava esta entrevista, na porta da Casa do Livro se concentraram dezenas de pessoas que na saída chamaram o presidente venezuelano de "assassino" e "ditador". Chávez saiu sorrindo e mandando beijos para alguns de seus partidários, que estavam entre os manifestantes. Chávez saiu encantado da reunião com o rei e o primeiro-ministro.

"A reunião com o rei, lá no palácio, muito bonita. Há veados por lá, tudo muito bonito. O rei nos recebeu como sempre, com muito afeto. Uma gravata verde, agora de barba, bem cuidada, e uma conversa extraordinária. Revisando tudo e preparando-nos para próximos encontros.

"O presidente venezuelano chegou a Madri procedente de uma viagem por vários países, dos quais a última escala foi a Rússia. Em Moscou conseguiu um crédito para comprar armas. Desde 2005 a Venezuela fez aquisições de armamento russo em um valor superior a 2,76 bilhões de euros.

El País: Qual é o objetivo dessa corrida armamentista?
Chávez: Tomara se torne realidade aquele reino anunciado por Cristo; o que diz a Bíblia: "Um dia o ferro das espadas se transformará no ferro dos arados". Oxalá, "inshallah". Mas enquanto isso há uma realidade objetiva. Cada país tem direito, como tem a Espanha, a ter uma marinha para defender seus mares, uma aviação militar para defender e garantir a soberania do território espanhol, um exército. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo. E a reserva de gás vai ser a quinta maior do mundo. E é um país com uma situação geográfica invejável para as potências mundiais, sobretudo os EUA. Então temos direito. Ninguém pode nos pedir para jogar fora os tanques franceses que a Venezuela comprou há 40 anos. Os EUA gostariam disso. Não nos vendem peças dos aviões Hercules. Hoje eu disse isso ao primeiro-ministro Zapatero: "Oxalá que agora que mudou o governo dos EUA permita que a Espanha venda uns aviões CASA, que não são caça-bombardeiros, são aviões de transporte. Bush não permitiu que a Espanha nos vendesse esses aviões, que são muito úteis para levar carga à fronteira, às ilhas do Caribe... Então fizemos com a Rússia, com a França e com a Espanha também, convênios militares. Com o Brasil também. Para garantir a soberania do país. Estamos utilizando um direito. Alguns exageram e dizem que Chávez tem um projeto expansionista, "guerreirista"... pelo contrário. O expansionista e guerreirista são os EUA. Como aumentamos a economia, aumentamos a defesa. Não fazemos planos contra ninguém, são planos de defesa.

El País: Vocês não consideram terroristas os membros das Farc [a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]?
Chávez: Nem o Brasil, nem o Chile, nem a Argentina, nem o Peru, nem o Equador. Ninguém. Os únicos no continente americano são os EUA e a Colômbia. Quando chegamos ao governo, há quase 11 anos, o chanceler que eu nomeei, José Vicente Rangel, me disse que em um edifício da chancelaria cumprimentou um senhor baixinho que lhe disse que era colombiano. E você quem é? Não, é que tenho um escritório aqui. Comandante Ariel, esse era seu nome. A Farc tinha escritório na chancelaria venezuelana! Isso quase ninguém sabe. Por quê? Porque as Farc tinham uma rede de relações diplomáticas. Mas veio Bush e os colocou em uma lista de terroristas. Eu mesmo estou nessa lista de Bush. Espero que não na de Obama. As Farc não são terroristas, são uma força insurgente. É preciso reconhecê-la como tal para poder haver paz, porque com os terroristas não se pode dialogar.

El País: Mais de dez anos desde que o senhor chegou ao governo, a Venezuela é um país mais livre? Na atual situação, um dos principais líderes da oposição se encontra autoexilado...
Chávez: Dê-me nomes.

El País: Manuel Rosales.
Chávez: Está fugindo da justiça. Você sabe que está fugindo da justiça? Pois é preciso dizer a verdade. Não é que esteja autoexilado. Cuidado com as palavras, eu lhe sugiro. Manuel Rosales tem mandado de prisão e fugiu. Não está autoexilado porque o governo o persegue. Tem residência na Flórida, não sei quantos milhões de dólares, propriedades e contas, e não quis ir a um tribunal para explicar de onde as tirou, mas optou por fugir do país.

El País: Um amigo seu, Raúl Isaía Baduel, está agora na prisão.
Chávez: Você sabe por quê? Isso me causa dor, porque somos velhos companheiros. Começamos a fundar as primeiras células bolivarianas no exército quando éramos quase crianças. Raúl, depois, foi um comandante do movimento. Poucos dias antes da rebelião [o golpe de Estado de 1992 contra o presidente Carlos Andrés Pérez], me disse que não ia à rebelião. Isso me atingiu muito forte, mas eu aceitei. Falando e olhando nos olhos lhe perguntei por quê. Então lhe disse que passasse à reserva. Não nos vimos durante muitos anos. Depois, assim que ganhei as eleições, em 6 de dezembro de 1998, mandei chamá-lo. Era coronel. Todo mundo sabia que era meu amigo e cobrou isso; se transformou em meu secretário privado durante dois ou três anos. O promovi a general e o mandei para a brigada pára-quedista. Seus filhos e os meus... foram muitos anos juntos. Chegou o golpe e me chamou. Me disse: Papa - assim nos chamávamos -, o que faço? Eu lhe disse: resista, não sei o que será de mim, mas resista. E ele, talvez com uma velha dívida daquela rebelião, me disse por telefone: Papa, desta vez não estou na reserva. E se pôs na frente junto com outros oficiais e muito povo.

El País: Ele denunciou uma perseguição injusta.
Chávez: O promovi a general em chefe. Nesse dia chorou. Eu o nomeei ministro da Defesa. Começaram informações estranhas. De repente comprou um rebanho, uma casa, muito dinheiro... Um dia o chamei: me disseram que você comprou uma casa, gado... o que está fazendo? E ele me disse: não, não, me atacam para atacar a você. Ele entregou o comando e saiu pela porta grande. Mas as investigações começaram. O primeiro sinal foi que no mesmo dia em que Raúl entregou o Ministério da Defesa um oficial que chamam de habilitado para administrar e assinar cheques pediu baixa do exército nesse mesmo dia e ele a assinou no mesmo dia. E não entregou nada nem explicou nada ao que chegou. Se eu tivesse freado essa investigação estaria avalizando um possível fato irregular. Quando perdi outro amigo também por coisas parecidas. E há falta de cerca de US$ 15 milhões que não aparecem. Mas aparecem veículos de luxo, fazendas... Raúl, em vez de ir ao tribunal que o julgava, se negou, dizendo que isso era uma perseguição política e que ele é general em chefe. Ahhh... aí Raúl desmoronou. Poderia ter sido um grande líder desta revolução. Hoje está preso. Mas que eu o persiga... jamais. A lei é a lei. E não tenho dúvida de que a Venezuela goza hoje de muito mais liberdades do que 11 anos atrás, quando eu cheguei.

El País: Por motivo dos dez anos de governo Chávez, a ONG Human Right Watch elaborou um relatório no qual se afirma que havia ocorrido uma redução das liberdades e que os juízes tinham se transformado em fantoches do governo. Essa ONG fez relatórios muito duros, tanto contra a Venezuela como contra o governo do colombiano Álvaro Uribe. A diferença é que quando foram apresentar o seu, em Caracas, a polícia tirou essa ONG do país.
Chávez: Eu creio que você tem pouca informação. E está caindo em um erro. Está fazendo elaborações fundamentadas em mentiras. Creio que é uma vítima. Porque não creio que seja indecente. Está falando do senhor [José María] Vivanco, não é verdade? Eu o convido a ver o vídeo do que Vivanco disse lá. E por que em uma estrita aplicação da lei venezuelana o governo o convidou [a sair do país], ele não quis e então foi obrigado a abandonar o país. Eu gostaria de ver se aqui chegasse alguém que não tenha imunidade jurídica internacional. Imagine que comece a dizer coisas contra o governo da Espanha e contra o rei e contra o primeiro-ministro... tenho certeza de que o governo da Espanha vai convidá-lo a que se retire daqui. Eu vou a sua casa sentar-me na sala da sua casa para insultá-lo, a sua mulher, seus filhos...? Você tem de me expulsar da sala de sua casa. Que vão para lá dar um show em aliança com a oposição interna, porque foi isso que ocorreu, e desrespeitar a dignidade de um país... isso ninguém pode aceitar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os Indiferentes


Por Antonio Gramsci

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos.

O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso.

Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir.

Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Amigo é coisa...


E viva o 7 de setembro!