sexta-feira, 27 de março de 2009

A IMPRENSA ALARMISTA


A "Guerra Urbana", isso mesmo, em letras maiúsculas para denunciar que o País anda no caos da violência. E já não suportamos mais. Seja ao vivo, ali pela TV ou acontecendo com você. Cara a cara com o que há de mais revoltante num ser humano. Mas como resolver esse problema?

As empresas desprezam capacitar jornalistas para enfrentar a violência por causa do custo de um dia de reportagem perdida - que na visão geral de muitos é visto como 'uma folga'.

Na época do caso PCC, por exemplo, a imprensa paulista deu um verdadeiro vexame na cobertura. Aterrorizou a população com muitas informações erradas e, dê certo, no desespero de furar a concorrência, fez cara de assustados. Pouco vi do arcaico e 'engessado' jornalismo na forma que os apresentadores das principais tvs desencadeavam novidades para acalmar a população. Pareceu-me que eram atores representando. As capas dos principais impressos jamais deixariam de publicar fotos com pura violência.


Até o Orkut contribuiu para tamanho pânico. Lembro-me que naqueles dias andei por toda a cidade de São Paulo e não vi uma única pessoa que não estivesse apavorada! Me viam de longe, abaixavam as cabeças e olhavam de canto de olho, com medo e receio. Eu poderia ser o algóz delas?!


A imprensa carioca

Há anos que a imprensa carioca está mais preparada para noticiar os factóides violentos do dia-a-dia do Rio. Por lá, a imprensa não se perde em meio ao tiroteio e não dramatiza os fatos (ao menos com expressões faciais).

Nessa falta de preparo dos jornalistas brasileiros -- principalmente dos paulistas --, quem perde é a população.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Jornalistas e jornalistas

"O jornalista deve ser um combatente, não um expectador".
Por José Carlos Mariátegui

Glória, RJ, sede da rádio CBN, segundo semestre de 2008. A emissora das Organizações Globo convida todas as assessorias dos candidatos à Prefeitura do Rio para discutir as regras e a ordem das entrevistas e a cobertura. Oswaldo Maneschy, representando o PDT, questiona a opção da CBN de utilizar as pesquisas de opinião como critério para definir a ordem das entrevistas. Ele sabe que essas pesquisas já foram utilizadas para fraudar eleições, como ficou claro no escândalo do Pró-Consult.

Marisa Tavares, diretora de jornalismo, acaba aceitando sortear a ordem. Mas sobre o tempo de cobertura, ela sentencia: “Não vou perder tempo cobrindo partido pequeno”. Ao que Maneschy responde: “Nos últimos 20 anos elegemos três governadores no Rio de Janeiro. Isso é partido pequeno, Marisa?”. Ela não respondeu, mas quando o representante do PDT saiu da sala, Marisa comentou: “Maneschy abraçou uma causa... Ele parou nos anos 80”.

Conto essa história porque sinto uma onda reacionária de jornalistas que atualmente vendem sua força de trabalho às corporações de mídia contra aqueles profissionais que escolheram um caminho diferente. Isto fica bastante visível no menosprezo da diretora da CBN em relação ao Oswaldo Maneschy. Para se posicionarem desta forma, esses jornalistas acreditam piamente no mito da imparcialidade. Acham que basta ouvir os dois lados, mas aparentemente não percebem que a vida não é feita em preto e branco. Ou, mais além, parecem não saber que as empresas onde trabalham estão a serviço de um determinado projeto político.

Nesse sentido, pode-se dizer sem medo de errar que todo jornalista abraça uma causa, tanto os que escolhem militar num partido político, ONG ou movimento social, quanto aqueles que suam a blusinha para ingressar numa das poucas corporações de mídia. A diferença é o que cada um defende.

Num país capitalista, autoritário, machista, racista e brutalmente desigual como o Brasil, as corporações de mídia cumprem um papel fundamental para a manutenção do sistema. Enquanto equipamento de controle social, seu objetivo é reduzir a resistência diante de todas essas formas de opressão. Resistência que geralmente se manifesta através dos movimentos sociais, criminalizados pela mídia corporativa e defendidos pela outra imprensa.

Muitas vezes os jornalistas que abraçam a mídia grande não se dão conta deste processo. Como cada vez mais a pauta chega pronta – desde quem pode ser ouvido até o que o ouvido deve dizer, passando pelo fato não desprezível da criteriosa escolha de quem é o “outro lado” autorizado a ser ouvido – esses jornalistas se transformam em autômatos. Toda a formação acadêmica, sobretudo nas áreas de sociologia, filosofia e semiologia vai por água abaixo. Daí William Bonner ter dito que forma uma jornalista em seis meses (melhor teria sido falar em “adestramento”).

Diante desta alienação, voluntária ou não, o resultado é que passam a vida como meros expectadores, incapazes de refletir sobre sua própria profissão e sua missão social. O máximo que conseguem é levantar a voz contra os jornalistas que escolheram caminhos diferentes.