sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Qual órgão público municipal é você?




O som de seus passos duros ecoava no concreto frio da Avenida São João. Não havia nada além deles, correndo aflitos na calada da noite. Sua respiração ofegava, e era possível sentir seu sangue pulsar intensamente em suas orelhas. Seus cabelos esvoaçavam, junto com eles ia sua esperança.
São Paulo, agora, morria, sangrava e desfalecia aos seus calcanhares. Sua luta e sua fé de nada adiantariam se não encontrasse, justamente daquela vez, um jeito de fugir. Ele sabia que eles aproximavam, não por sons, mas pelo medo que percorria seu corpo quando delineado por suas lanternas.
Com as luzes ainda tocando suas formas, ouviu os passos pesados das botas de couro. Ele não sentiu quando o primeiro golpe de madeira lhe atingiu as costas; simplesmente caiu. Não por desistir, seu corpo, agora, não lhe pertencia mais. “Talvez isso seja bom”, pensou ele, “de que vale a carne, afinal?”. E esperou.
Os cabelos, antes molhados de suor, enruiveciam com o sangue que escorria por sua face. As costelas o incomodavam, assim como os joelhos, mas ao abrir os olhos, vislumbrou o céu por uma fresta no porta-malas do carro, e agradeceu. Degustou da própria força, e sentiu-se vivo, uma vez mais.
Arremessado no chão gelado, escorregando pelo concreto, deparou-se com uma obstrução em seu caminho natural. Apoiou-se e tentou se levantar, facilitando o trabalho deles. Os punhos unidos eram amarrados na barreira, localizada no meio do cômodo; o rosto de um deles ficou próximo ao seu. De todas as alternativas possíveis, ele escolheu a mais perigosa: encarou-o. Não seriamente, nem com raiva ou medo. Com um sentimento inesperado, até para ele: compaixão. O outro, assustado e indeciso com tal reação perdeu parte de sua armadura – se perdia sua identificação: General.
Esta seria a primeira vez que Nélson de Souza fugia da prisão, mas não da tortura, militar.

Idéias mal elaboradas não sustentam revoluções. Indague: pelo que vale a pena lutar? Pelo que vale uma revolução? Pelo que vale a repetição do levante de armas mais significativo da história do nosso País?
Justiça? Moradia? Assistência Social? Fome? Estudo? Liberdade? Acessibilidade? As causas são várias, as soluções poucas e a culpa fácil.
No entanto, o que você pode fazer em relação a isso?
Quantas pessoas, eu me pergunto, já se questionaram isso? X
Quantas destas, realmente, tinham a intenção de fazer algo a respeito? Y
Quantas destas tentaram tiveram dúvidas por onde começar? Z
Quantas destas buscaram soluções para os questionamentos? W
Quantas destas estudaram os Órgãos Públicos?

--- Quantos de nós, jornalistas, já vasculhamos o site da Prefeitura de São Paulo hoje?
Quantos sabemos as informações disponíveis nesta ferramenta pública? Quantos NUNCA haviam pensado nisso antes?
O preparo e organização são as armas disponíveis hoje. Transparência é direito e atitude é dever. Busque, organize e revolucione o seu bairro, por exemplo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A América Latina e o fim do liberalismo social


Por James Petras

A actual recessão mundial e a potencial recuperação de alguns países revela todas as fraquezas das tradicionais doutrinas das vantagens comparativas, o "mercado de exportação", o livre comércio. Em nenhum outro lugar isto é mais evidente do que na experiência recente da América Latina.

Apesar de recentes levantamentos populares e da ascensão de regimes de centro-esquerda na maior parte dos países na região, as estruturas económicas, estratégias e políticas prosseguidas seguem as pisadas das suas antecessoras, particularmente em relação às práticas económicas com o estrangeiro.

Influenciada pela procura acentuada e a subida dos preços das commodities, especialmente produtos agro-minerais e de energia, os regimes latino-americanos, recuaram em relação a quaisquer mudanças em várias áreas cruciais e adaptaram-se às políticas e económicas legadas pelos seus antecessores neoliberais. Em consequência, com a vasta recessão mundial principiada em 2008, eles sofreram um declínio económico agudo com graves consequências sociais.

As crises socioeconómicas resultantes proporcionam lições importantes e reforçam a noção de que mudanças estruturais profundas no investimento, comércio, propriedade de sectores económicos estratégicos são essenciais para o crescimento sustentado e equitativo.

O mercado livre, doutrina do livre comércio: a década de 1990

A partir de meados da década de 1970, com o advento de regimes pró militares estado-unidenses e de regimes autoritários civis e sob a tutela de académicos dos EUA e economistas ali educados, a América Latina tornou-se um laboratório para a aplicação de políticas livre mercado – livre comércio.

Barreiras comerciais foram reduzidas ou eliminadas, de modo que produtos agrícolas subsidiados dos EUA e da União Europeia entraram sem entraves, dizimando a produção alimentar de pequenos agricultores que produziam para consumo local. Sob a doutrina da "vantagem comparativa" decisores políticos financiaram e promoveram empresas de agro-negócios em grande escala especializadas em produtos de exportação – trigo, soja, açúcar, milho, gado, etc apostando nos preços favoráveis, acesso a mercado favorável e preços razoáveis de alimentos, equipamento agrícolas e importações não agrícolas.

A desregulamentação total da economia e a privatização de empresas públicas abriu as comportas ao investimento estrangeiro, à tomada de sectores económicos estratégicos e ao aumento da dependência do investimento estrangeiro para sustentar o crescimento e a balança de pagamentos.

A estratégia geral dos regimes era confiar nos mercados de exportação, a expensas do aprofundamento e ampliação dos mercados internos (consumo local em massa); uma política que confiava no embaratecimento dos custos do trabalho local e na sustentação de altos lucros para a classe dominante agro-mineral. A presença desta última em todos os ministérios económicos chave dos regime assegurava que às políticas ao seu serviço fosse dado um verniz ideológico com a noção de "mercados racionais eficientes", deixando de notar a história a longo prazo da instabilidade intrínseca dos mercados mundiais.

Crises dos regimes tradicionais neoliberais

O sistema financeiro desregulamentado e a recessão mundial de 2000-2001, o saqueio selvagem da economia e do tesouro pelos praticantes do mercado livre, a corrupção monumental e a exploração sem peias de trabalhadores, camponeses e empregados públicos produziu revoltas na vasta região. Toda uma série de regimes eleitorais apoiados pelos EUA foram derrubado e/ou derrotados em competições eleitorais. O Equador, Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai e Paraguai testemunharam levantamentos populares, os quais entretanto acabaram por levar à eleição de regimes centro-esquerda, especialmente em campanhas eleitorais que prometiam "profunda mudança estrutural", incluindo mudanças na estrutura económica do poder e aumentos substanciais nos gastos sociais bem como a redistribuição de terra nas zonas rurais.

Na prática as derrotas políticas dos partidos estabelecidos da direita, e a enfraquecida elite económica, não serviam de base para transformações socioeconómicas em grande escala e a longo prazo. Os novos regimes de centro-esquerda buscavam políticas socioeconómicas que procuravam "reformar" as elites económicas forçando-as a acomodarem-se aos seus esforços para reactivar a economia e subsidiar o pobres e desempregados. As elites políticas foram retiradas dos gabinetes, uns poucos dos responsáveis mais venais implicados na repressão em massa foram postos em tribunal mas sem quaisquer sérios esforços para transformar o partido – sistema político. Por outras palavras, o fim das elites neoliberais nas crise, induzido pelas políticas de livre mercado, mantidas no lugar, temporariamente suspensas pelos regimes de centro-esquerda com políticas de administração de crise intervencionistas do Estado.

Políticas de centro-esquerda: A administração de crise e o boom económico

Os novos governos centro-esquerda adoptaram toda uma série de políticas que iam desde incentivos económicos aos negócios, regulações financeiras, despesas acrescida em programas de pobreza, aumentos de salários generalizados e consulta a líderes de organizações populares. Eles repudiaram os políticos inimigos e os criminosos do período anterior juntamente com a intervenção numas poucas empresas privadas em bancarrota. Estas políticas simbólicas e sólidas asseguraram, temporariamente, o apoio da massa do eleitorado e isolaram e dividiram os sectores mais radicais dos movimentos populares.

No entanto, exigências de mudanças mais vastas e mais profundas ainda estavam na agenda das massas enquanto os regimes de centro esquerda tentavam equilibrar-se entre exigências radicais dos de baixo e os seus compromissos políticos para normalizar e estimular o desenvolvimento capitalista, incluindo todas as elites existentes (elites multinacionais estrangeiras, agro-minerais, finanças, comerciais e manufactureiras). O dilema do centro-esquerda foi resolvido pela súbita alta nos preços das commodities, em grande parte estimulada pela procura dinâmica e o crescimento das economias asiáticas, nomeadamente da China.

Os regimes de centro esquerda abandonaram então todos os pretextos de busca de mudança estrutural e saltaram para o comboio do "crescimento conduzido pela exportação" – com base na exportação de produtos primários. Abandonando a crítica ao investimento estrangeiro e exigências de "renacionalizar" firmas privadas estratégicas, os regimes de centro esquerda abriram a porta a entradas de capital estrangeiro em grande escala – suspendendo a aplicação de alguns dos seus controles regulamentares.

O boom das commodities de 2003-2008 permitiu aos regimes de centro esquerda (e aos de direita) "comprarem" a oposição: sindicatos receberam substanciais aumentos de salários, negócios receberam incentivos substanciais, investidores estrangeiros foram saudados, remessas de trabalhadores expatriados foram encorajadas, como contribuições para a redução da pobreza.

Numa palavra: todo o edifício socioeconómico da estratégia da América Latina de alto crescimento económico orientado pelas exportações repousava na procura do mercado mundial e nas condições económicas nos países imperiais. Poucos dos peritos económicos, colunistas financeiros e celebrantes políticos dos "mercados racionais" exprimiram quaisquer dúvidas acerca da sustentabilidade do modelo "mercado de exportação".

A extraordinárias vulnerabilidade destas economias, a sua dependência de mercados voláteis, a sua dependência sobre um número limitado de produtos de exportação, a sua dependência sobre um ou dois mercado, a sua dependência das remessas dos mais precários trabalhadores expatriados deveriam ter levantado uma bandeira vermelha para qualquer economista e decisor político que pensasse. Os consultores de alto preço e as missões de aconselhamento estrangeiras da Harvard Business School, da Penn's Wharton School e de outros centros prestigiosos de ensino superior (enamorados das suas equações matemáticas as quais demonstravam quais eram as suas premissas) argumentavam que mercados minimamente regulados são os que têm mais êxito e convenceram seus parceiros latino-americanos do centro-esquerda à direita a reduzir barreiras comerciais e permitir o fluxo de capital.

Após apenas cinco anos de rápido crescimento induzido pelo mercado de exportação, as economias latino-americanas entraram em crash. Segundo a Comissão Económica das Nações Unidas para a América Latina, as exportações dos países latino-americanos e caribenhos em 2009 mostrarão a queda mais aguda ao longo de mais de 72 anos (desde a última depressão mundial). As exportações regionais declinarão 11% em volume, ao passo que as importações cairão 14%, a maior queda desde a recessão mundial de 1982.

Armadilhas da especialização em exportações de commodities

As datas de referência são indicativas dos compromissos seculares e das vulnerabilidades na estrutura comercial: as recessões passadas e presentes têm um impacto agudo sobre a América Latina porque tanto agora como no passado as suas economias dependem de exportações agro-minerais para mercados imperiais, os quais rapidamente comutam as suas crises internas para os seus parceiros comerciais latino-americanos. O declínio histórico no comércio inevitavelmente duplica e triplica a taxa de desemprego entre os trabalhadores dos sectores de exportação e tem um efeito multiplicador sobre empresas económicas satélite ligadas às despesas e aos consumos gerados pelo comércio além-mar. A especialização em exportações agro-minerais limita as possibilidades de emprego alternativo de um modo que uma economia mais diversificada não faz. A dependência do Estado, para a maior parte das suas receitas, das exportações de agro-minerais e de energia significa cortes automáticos no investimento público e nas despesas com serviços sociais.

As crises comerciais da América Latina afectaram especialmente aqueles países com produtos de exportação mais tradicionais em commodities agrícolas, minerais e energéticas: Venezuela e Equador (petróleo), Colômbia (petróleo e carvão) e Bolívia experimentaram um declínio de até 33% em 2009, muito acima da média para a região. O México, dependente em 80% do seu comércio com os EUA (petróleo, turismo, remessas, automóveis) experimentou o maior declínio, 11% do PIB, de todos os países do hemisfério.

Se bem que todas as economias conduzidas pela exportação fossem atingidas pelas crises, aqueles países que tinham um mix comercial mais diversificado (manufacturas, agricultura, serviços) caíram em aproximadamente 20% ao passo que os países que se especializaram em exportações de petróleo e minerais caíram mais de 50%.

Armadilhas da dependência a um único mercado

Os países com uma maior diversidade de mercados e parceiros comerciais, especialmente aqueles que comerciavam dentro da zona latino-americana e com a China, experimentaram um declínio mais reduzido em comparação com aqueles, como o México, Venezuela e América Central, que dependiam dos mercados dos EUA e da União Europeia, que caíram em mais de 35%.

O comércio foi apenas uma das quatro frentes que impactaram negativamente a América Latina. O investimento directo estrangeiro, as remessas de trabalhadores do estrangeiro e os preços das commodities contribuíram para as crises.

Armadilhas da dependência do investimento estrangeiro

As portas abertas da América Latina ao investimento estrangeiro (IE) foram uma causa importante da crise. O fluxo de IE escalou em resposta ao crescimento interno da América Latina, aproveitando-se dos altos lucros gerados pelo boom comercial de commodities. Com o declínio do comércio, rendimentos e lucros, o IE saiu, repatriou lucros e desinvestiu, exacerbando as crises a aumentando o desemprego. O IE segue as práticas de entrada fácil e retirada rápida – um meio de desenvolvimento altamente inconfiável e volátil.

Armadilhas da dependência das remessas de além-mar

Os regimes latino-americanos consideraram como certos e construíram dentro das suas políticas económicas e projecções transferências de muitos milhares de milhões de dólares de rendimentos de trabalhadores além-mar, fazendo vista grossa à posição legal e económica altamente vulnerável dos seus cidadãos que trabalham no exterior. A vasta maioria dos trabalhadores além-mar está em posições muito vulneráveis: muitos não estão documentados ("imigrantes ilegais") e durante recessões ou baixas económicas são abruptamente despedidos. Em segundo lugar trabalham em sectores como construção, turismo, jardinagem e limpeza, os quais são duramente atingidos pelas recessões. Em terceiro têm pouca ou nenhuma antiguidade e são "os últimos contratados e os primeiros despedidos". Em quarto, muitos não podem receber seguro de desemprego e enfrentam a deportação se não puderem sustentar-se. Os resultados da alta vulnerabilidade dos trabalhadores no estrangeiro são visíveis no declínio de muito milhares de milhões de dólares nas remessas para a América Latina, exacerbando a pobreza e inclinando a balança de pagamentos no vermelho.

Volatilidade dos preços das commodities

Ao colocar todos os seus ovos no cabaz dos preços altos das commodities e dos mercados além-mar, os governos do centro-esquerda perderam uma grande oportunidade para aprofundarem o seu mercado interno via industrialização por substituição de importações, reforma agrária e investimentos público em infraestrutura ligando agricultura – mineração – manufactura e fontes de energia numa "rede" para proteger a economia nacional de crises induzidas externamente.

Os limites do social liberalismo ("centro-esquerda") e as crises económicas

Durante a primeira década do novo milénio os regimes de centro-esquerda recém cunhados alinharam-se contra o neoliberalismo e chegaram a identificar-se como os socialistas do "século XXI". Na prática o que isto significou foi atar aumentos em despesas sociais às estruturas económicas políticas comerciais existentes, com alguns ajustamentos em parceiros comerciais e em alguns casos "joint-ventures" com investidores estrangeiros. Durante o período todo o conjunto de regime praticou políticas sociais liberais familiares a observadores dos regimes social-democratas europeus contemporâneos: eles combinaram livre comércio e uma porta aberta ao investimento estrangeiro com gastos maiores em programas anti-pobreza, benefícios de desemprego e aumentos no salário mínimo. Por outro lado vastos lucros acumularam-se nas mãos das elites agro-minerais e do sector bancário, o qual financiou comércio, consumo e rolagem da dívida.

Todo o modelo social liberal continuou entretanto sobre os fundamentos frágeis das crises dependentes da estratégia de exportações de commodities, receitas comerciais altamente voláteis e rendimento de vulneráveis trabalhadores além-mar. Quando os mercados de exportações latino-americanos secaram e os preços das commodities caíram, as receitas declinaram e trabalhadores foram despedidos. O modelo social liberal entrou em colapso com crescimento negativo e os ganhos anteriores em emprego e redução da pobreza foram revertidos.

Lições do colapso do modelo social liberal

Várias lições importantes podem ser retiradas da experiência em curso de regimes social-liberais.

1. Programas sociais positivos não são sustentáveis sem mudanças estruturais, as quais diminuem a vulnerabilidade externa .

2. Reduzir a vulnerabilidade externa depende da propriedade pública dos sectores económicos estratégicos a fim de evitar fugas de capital, o comportamento típico do capital com base no estrangeiro.

3. Reduzir a vulnerabilidade económica depende de diversificar mercados para longe dos centros imperiais infestados de crises e controlados financeiramente. Maior sustentabilidade económica depende do aprofundamento do mercado interno, aumento do comércio intra-regional e redireccionamento do comércio rumo a regiões de crescimento alto.

4. Despesas sociais são paliativos necessários no imediato mas não vão à raiz da pobreza e dos rendimentos baixos. Programas de distribuição de terra de grande amplitude ligados ao desenvolvimento em grande escala com financiamento e investimento da produção alimentar local e em indústrias internas que complementem e se associem à produção agro-mineral diminuirão a dependência de mercados além-mar e estabilizarão a economia.

5. O controle estatal do comércio estrangeiro e das empregas minerais estratégicas permite a captura do excedente económico para financiar a diversificação económica e a inovação.

6. A integração regional tem de passar das declarações retóricas ao desempenho e prática reais. O presidente Chavez da Venezuela, o principal advogado da integração regional e promotor da Associação Bolivariana da América Latina (ALBA), ainda depende dos mercados dos EUA para 80% da sua venda de petróleo e 70% das receitas de exportação do petróleo, e mais de 50% das suas importações alimentares da Colômbia, cliente militar dos EUA. A integração regional é factível com base no planeamento de investimentos complementares e empreendimentos públicos conjuntos na industrialização de minerais, petróleo e outras commodities primárias.

7. Pactos de segurança entre regimes latino-americanos destinados a reagir às bases militares colombianas dos EUA e à estratégia de militarização estado-unidense também podem ter uma função económica – criar indústrias joint-venture de armamentos e reduzir compras externas.

8. A diversificação do comércio com a Ásia e a diminuição da dependência dos EUA e da UE é necessária mas insuficiente se o conteúdo exportado continuar a ser predominantemente mercadorias primárias. Mudar parceiros comerciais mas perpetuar padrões comerciais de "estilo colonial" não diminuirá a vulnerabilidade. A América Latina, especialmente a Bolívia, Brasil, Peru e Equador, devem insistir em que os seus produtos primários sejam industrializados e seja acrescentado valor antes de serem exportados para a China, Índia, Japão e Coreia.

Em resumo: a actual crise mundial revela as limitações e insustentabilidade das políticas e regimes sociais-liberais. No reconhecimento das vulnerabilidades e da volatilidade jaz o fundamento para uma transformação estrutural completa com base em mudanças na posse da terra, nos padrões comerciais e na propriedade de indústrias estratégicas. A crise actual desacreditou tanto as receitas neoliberais como sociais-liberais e abre a porta para um novo pensamento que liga despesas sociais com propriedade social.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quem foi Astrojildo Pereira?


Astrojildo Pereira Duarte Silva nasceu em Rio Bonito (RJ), em 1890. Ainda jovem iniciou sua militância em organizações operárias de orientação anarquista, tendo sido um dos promotores, em 1913, do II Congresso Operário Brasileiro. Iniciou na imprensa operária sua carreira de jornalista, atividade a que se dedicaria durante a maior parte de sua vida. No final de 1918, participou dos preparativos de uma frustrada insurreição anarquista e, por conta disso, foi preso.
Com a vitória da Revolução Russa, em 1917, começou a afastar-se do anarquismo.

Em 1922, participou do congresso de fundação do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), em Niterói (RJ). Em seguida, foi eleito secretário-geral da nova organização e nessa condição fez sua primeira viagem à União Soviética, em 1924. No ano seguinte, o PCB iniciou a publicação do jornal A Classe Operária, que teve Astrojildo e Otávio Brandão como principais redatores. Em 1927, encarregado pela direção do partido de buscar contato com Luís Carlos Prestes, exilado na Bolívia, para propor-lhe entendimentos políticos, entregou ao líder tenentista, nessa ocasião, diversos volumes de literatura marxista. Ainda nesse ano o PCB passou a estimular uma política de frente eleitoral com outros setores de esquerda, o que acabou resultando na criação do Bloco Operário, posteriormente rebatizado de Bloco Operário e Camponês (BOC). Em 1928, passou a fazer parte do Comitê Executivo da Internacional Comunista, eleito no VI Congresso da entidade.

Entre fevereiro de 1929 e janeiro de 1930 permaneceu em Moscou, de onde voltou com a orientação de proletarizar o PCB, ou seja, promover a substituição dos intelectuais da direção do partido por operários. Em novembro de 1930, o processo de proletarização acabou atingindo o próprio Astrojildo, que foi afastado da secretaria-geral. No ano seguinte, desligou-se do PCB, após breve período de atuação junto ao seu Comitê Regional de São Paulo.

A partir de então, dedicou-se durante muitos anos aos negócios particulares herdados do pai e, já como crítico literário reconhecido, colaborou no jornal carioca Diário de Notícias e na revista Diretrizes. Em 1944, publicou Interpretações, obra em que reunia estudos sobre literatura, com destaque para o artigo "Machado de Assis, romancista do Segundo Reinado".

Em 1945, foi delegado do Estado do Rio ao I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em São Paulo, e um dos redatores da declaração de princípios do encontro, marcada por críticas à ditadura de Vargas. Ainda em 1945, retornou ao PCB e, desde então, passou a colaborar intensamente com a imprensa partidária. Dirigiu as revistas Literatura, Problemas do Socialismo e Estudos Sociais, e colaborou com o jornal Imprensa Popular e com a revista Novos Rumos. Em 1964, foi preso após o golpe militar daquele ano, tendo permanecido na prisão por três meses, já em estado de saúde precário.

Morreu no Rio de Janeiro, em 1965.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Entrevista com Hugo Chávez: "Temos direito a nos defender"


Por Francisco Peregil
EL PAÍS

Hugo Chávez acabava de se encontrar com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, no Palácio de la Moncloa, e depois no Palácio de La Zarzuela com o rei Juan Carlos. Chávez acabava de saber durante seu encontro com Zapatero o que ele qualificou como uma "notícia-bomba": a descoberta na Venezuela de reservas de gás exploradas a meias pela companhia de petróleo venezuelana PDVSA e a espanhola Repsol. Trata-se da maior descoberta de gás da história da Repsol. No terceiro andar da biblioteca, encontrava-se o presidente da empresa espanhola, Antonio Brufau, com quem Chávez queria conversar a caminho do aeroporto.

Enquanto se realizava esta entrevista, na porta da Casa do Livro se concentraram dezenas de pessoas que na saída chamaram o presidente venezuelano de "assassino" e "ditador". Chávez saiu sorrindo e mandando beijos para alguns de seus partidários, que estavam entre os manifestantes. Chávez saiu encantado da reunião com o rei e o primeiro-ministro.

"A reunião com o rei, lá no palácio, muito bonita. Há veados por lá, tudo muito bonito. O rei nos recebeu como sempre, com muito afeto. Uma gravata verde, agora de barba, bem cuidada, e uma conversa extraordinária. Revisando tudo e preparando-nos para próximos encontros.

"O presidente venezuelano chegou a Madri procedente de uma viagem por vários países, dos quais a última escala foi a Rússia. Em Moscou conseguiu um crédito para comprar armas. Desde 2005 a Venezuela fez aquisições de armamento russo em um valor superior a 2,76 bilhões de euros.

El País: Qual é o objetivo dessa corrida armamentista?
Chávez: Tomara se torne realidade aquele reino anunciado por Cristo; o que diz a Bíblia: "Um dia o ferro das espadas se transformará no ferro dos arados". Oxalá, "inshallah". Mas enquanto isso há uma realidade objetiva. Cada país tem direito, como tem a Espanha, a ter uma marinha para defender seus mares, uma aviação militar para defender e garantir a soberania do território espanhol, um exército. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo. E a reserva de gás vai ser a quinta maior do mundo. E é um país com uma situação geográfica invejável para as potências mundiais, sobretudo os EUA. Então temos direito. Ninguém pode nos pedir para jogar fora os tanques franceses que a Venezuela comprou há 40 anos. Os EUA gostariam disso. Não nos vendem peças dos aviões Hercules. Hoje eu disse isso ao primeiro-ministro Zapatero: "Oxalá que agora que mudou o governo dos EUA permita que a Espanha venda uns aviões CASA, que não são caça-bombardeiros, são aviões de transporte. Bush não permitiu que a Espanha nos vendesse esses aviões, que são muito úteis para levar carga à fronteira, às ilhas do Caribe... Então fizemos com a Rússia, com a França e com a Espanha também, convênios militares. Com o Brasil também. Para garantir a soberania do país. Estamos utilizando um direito. Alguns exageram e dizem que Chávez tem um projeto expansionista, "guerreirista"... pelo contrário. O expansionista e guerreirista são os EUA. Como aumentamos a economia, aumentamos a defesa. Não fazemos planos contra ninguém, são planos de defesa.

El País: Vocês não consideram terroristas os membros das Farc [a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]?
Chávez: Nem o Brasil, nem o Chile, nem a Argentina, nem o Peru, nem o Equador. Ninguém. Os únicos no continente americano são os EUA e a Colômbia. Quando chegamos ao governo, há quase 11 anos, o chanceler que eu nomeei, José Vicente Rangel, me disse que em um edifício da chancelaria cumprimentou um senhor baixinho que lhe disse que era colombiano. E você quem é? Não, é que tenho um escritório aqui. Comandante Ariel, esse era seu nome. A Farc tinha escritório na chancelaria venezuelana! Isso quase ninguém sabe. Por quê? Porque as Farc tinham uma rede de relações diplomáticas. Mas veio Bush e os colocou em uma lista de terroristas. Eu mesmo estou nessa lista de Bush. Espero que não na de Obama. As Farc não são terroristas, são uma força insurgente. É preciso reconhecê-la como tal para poder haver paz, porque com os terroristas não se pode dialogar.

El País: Mais de dez anos desde que o senhor chegou ao governo, a Venezuela é um país mais livre? Na atual situação, um dos principais líderes da oposição se encontra autoexilado...
Chávez: Dê-me nomes.

El País: Manuel Rosales.
Chávez: Está fugindo da justiça. Você sabe que está fugindo da justiça? Pois é preciso dizer a verdade. Não é que esteja autoexilado. Cuidado com as palavras, eu lhe sugiro. Manuel Rosales tem mandado de prisão e fugiu. Não está autoexilado porque o governo o persegue. Tem residência na Flórida, não sei quantos milhões de dólares, propriedades e contas, e não quis ir a um tribunal para explicar de onde as tirou, mas optou por fugir do país.

El País: Um amigo seu, Raúl Isaía Baduel, está agora na prisão.
Chávez: Você sabe por quê? Isso me causa dor, porque somos velhos companheiros. Começamos a fundar as primeiras células bolivarianas no exército quando éramos quase crianças. Raúl, depois, foi um comandante do movimento. Poucos dias antes da rebelião [o golpe de Estado de 1992 contra o presidente Carlos Andrés Pérez], me disse que não ia à rebelião. Isso me atingiu muito forte, mas eu aceitei. Falando e olhando nos olhos lhe perguntei por quê. Então lhe disse que passasse à reserva. Não nos vimos durante muitos anos. Depois, assim que ganhei as eleições, em 6 de dezembro de 1998, mandei chamá-lo. Era coronel. Todo mundo sabia que era meu amigo e cobrou isso; se transformou em meu secretário privado durante dois ou três anos. O promovi a general e o mandei para a brigada pára-quedista. Seus filhos e os meus... foram muitos anos juntos. Chegou o golpe e me chamou. Me disse: Papa - assim nos chamávamos -, o que faço? Eu lhe disse: resista, não sei o que será de mim, mas resista. E ele, talvez com uma velha dívida daquela rebelião, me disse por telefone: Papa, desta vez não estou na reserva. E se pôs na frente junto com outros oficiais e muito povo.

El País: Ele denunciou uma perseguição injusta.
Chávez: O promovi a general em chefe. Nesse dia chorou. Eu o nomeei ministro da Defesa. Começaram informações estranhas. De repente comprou um rebanho, uma casa, muito dinheiro... Um dia o chamei: me disseram que você comprou uma casa, gado... o que está fazendo? E ele me disse: não, não, me atacam para atacar a você. Ele entregou o comando e saiu pela porta grande. Mas as investigações começaram. O primeiro sinal foi que no mesmo dia em que Raúl entregou o Ministério da Defesa um oficial que chamam de habilitado para administrar e assinar cheques pediu baixa do exército nesse mesmo dia e ele a assinou no mesmo dia. E não entregou nada nem explicou nada ao que chegou. Se eu tivesse freado essa investigação estaria avalizando um possível fato irregular. Quando perdi outro amigo também por coisas parecidas. E há falta de cerca de US$ 15 milhões que não aparecem. Mas aparecem veículos de luxo, fazendas... Raúl, em vez de ir ao tribunal que o julgava, se negou, dizendo que isso era uma perseguição política e que ele é general em chefe. Ahhh... aí Raúl desmoronou. Poderia ter sido um grande líder desta revolução. Hoje está preso. Mas que eu o persiga... jamais. A lei é a lei. E não tenho dúvida de que a Venezuela goza hoje de muito mais liberdades do que 11 anos atrás, quando eu cheguei.

El País: Por motivo dos dez anos de governo Chávez, a ONG Human Right Watch elaborou um relatório no qual se afirma que havia ocorrido uma redução das liberdades e que os juízes tinham se transformado em fantoches do governo. Essa ONG fez relatórios muito duros, tanto contra a Venezuela como contra o governo do colombiano Álvaro Uribe. A diferença é que quando foram apresentar o seu, em Caracas, a polícia tirou essa ONG do país.
Chávez: Eu creio que você tem pouca informação. E está caindo em um erro. Está fazendo elaborações fundamentadas em mentiras. Creio que é uma vítima. Porque não creio que seja indecente. Está falando do senhor [José María] Vivanco, não é verdade? Eu o convido a ver o vídeo do que Vivanco disse lá. E por que em uma estrita aplicação da lei venezuelana o governo o convidou [a sair do país], ele não quis e então foi obrigado a abandonar o país. Eu gostaria de ver se aqui chegasse alguém que não tenha imunidade jurídica internacional. Imagine que comece a dizer coisas contra o governo da Espanha e contra o rei e contra o primeiro-ministro... tenho certeza de que o governo da Espanha vai convidá-lo a que se retire daqui. Eu vou a sua casa sentar-me na sala da sua casa para insultá-lo, a sua mulher, seus filhos...? Você tem de me expulsar da sala de sua casa. Que vão para lá dar um show em aliança com a oposição interna, porque foi isso que ocorreu, e desrespeitar a dignidade de um país... isso ninguém pode aceitar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os Indiferentes


Por Antonio Gramsci

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos.

O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso.

Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir.

Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Amigo é coisa...


E viva o 7 de setembro!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Quintal Tem Dono - Parte 1

Como a “nova” América Latina mudou a visão desgastada do continente historicamente governado pelas oligarquias

Um quintal de experiências, onde a aspiração da minoria se sobressaiu por anos. Das inúmeras formas de opressão vividas, talvez a pior fosse o “fundamentalismo de livre mercado”. A América Latina de hoje não vive de tubos, drogas ou trapézios como ratos de laboratório, mas sim de uma nova visão: o rumo, a uma inédita posição no globo, tomado pelas políticas sociais avaliadas pelos eleitores.

No topo dessa evolução (questionados ou não) seguem: Brasil, Bolívia, Chile, Equador e Venezuela. Eleições, referendos e índices históricos de popularidade marcam esses países. Vindos de partidos catalogados como oposição, os governantes, projetam um novo aspecto econômico e social para suas regiões.
Alguns podem ser considerados, por praticarem o chamado “Socialismo do Século XXI”, radicais. Outros, igualmente emergidos de partidos de esquerda, concentram suas principais forças em um modelo de governo intitulado “Esquerda Responsável”.

Na ponta dessa última está Luiz Inácio Lula da Silva. Eleito em 2002, Lula, antecipou à mídia e à população em sua famosa Carta aos Brasileiros, o modelo de gestão que seria adotado por ele e sua equipe na condução econômica brasileira. Baseado em uma política economicamente ortodoxa, visou o crescimento do PIB, o incentivo dos investimentos estrangeiros no Brasil, a auto-suficiência petrolífera e a quitação da dívida externa.

Apesar de uma reeleição não tão fácil, o governo se consolidou por uma política de busca mais efetiva da justiça social, cujas diferenças continuam a diminuir suavemente. Os programas criados buscam a erradicação da fome e da pobreza (Fome Zero e Bolsa Família), juntamente da inclusão educacional dos estudos do país ao ensino superior (Programa Universidade Para Todos - Prouni). O presidente salda hoje com 68% de aprovação nacional.

O ex-metalúrgico e um dos principais líderes mundiais, caminha com a especulação de um terceiro mandato, algo inédito na recente democracia brasileira. Alguns quilômetros e anos de distância separam o ineditismo brasileiro do chileno.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Ernesto que sempre será Che

Em tempos de fervores ideológicos, o mundo revê o mito de Guevara

Em 2009, completam 42 anos de sua morte. Assassinado aos 39 anos de idade, Ernesto “Che” Guevara, revolucionário e líder da revolução cubana ao lado de Fidel Castro, ainda desperta curiosidade e inspiração aos que conhecem sua história.

Lançado em 27 de março deste ano, “Che”, filme dirigido pelo vencedor do Oscar, Steven Soderbergh (11 Homens e um Segredo e Traffic), e interpretado pelo ator porto-riquenho Benício Del Toro, traz à tona o mito da guerrilha cubana iniciada em 1956 com o propósito de derrubar o governo do General Fulgêncio Batista.

Apresentado no Festival de Cannes de 2008 como uma única produção de quase 4h20min de duração, Che está sendo lançado em vários países como dois longas.

O mundo literário é juntamente absorvido pela temática Guevara, também lembrado com saudosas histórias de sua vida. “De Ernesto a Che”, Carlos 'Calica' Ferrer, amigo de infância de Ernesto, relata as aventuras e experiências pela qual passaram juntos na última viagem pela América Latina antes do jovem médico se tornar o Comandante Che.

“Evocação – Minha vida ao lado do Che”, escrito pela viúva do revolucionário, Aleida March depois de 40 anos de silêncio autoimposto, é um livro de memórias íntimas que revela o lado mais desconhecido da figura de Guevara. Retratado por um lado mais humano, Che tem sua vida contada por meio da mulher que esteve ao seu lado durante oito anos e com quem teve quatro filhos.

Mesmo em tempos de heróis em extinção (ainda é muito cedo para Obama, de acordo com especialistas), Ernesto “Che” Guevara sai do imaginário ideológico de milhões de pessoas, admiradoras ou não, e cataloga mais uma vez o seu nome na vida de todas as gerações.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A tensão aumenta em Atenas

Andy Robinson

Desde os tumultos de dezembro, o bairro universitário de Exarchia é território liberado para o público do clube anarquista Nosotros. Já não é mais só o campus universitário, refúgio antipolicial há 25 anos em homenagem aos 30 mortos na revolta estudantil contra a junta militar grega em 1973. Agora, o bairro todo é terreno proibido para a polícia depois da morte de Alexis Gregoropoulos, atingido por uma bala policial em dezembro, fato que detonou uma semana de tumultos em Atenas. "Nenhum guarda vai pisar em Exarchia por medo de provocar algo grande", afirma Vassilis Papadimitriou, porta-voz do Partido Socialista (Pasok).

A liberdade tem seus prós e contras. Na rua onde Gregoropoulos morreu - batizada de rua Alexis, sem consultar a prefeitura - se vê o positivo. Armados com furadeiras, um grupo de cidadãos transformou da noite para o dia um velho estacionamento em um jardim com árvores e balanços: a prefeitura planejava ali uma zona verde, mas os moradores não querem promessas eternas.

"Alguém veio e plantou esse plátano que custa € 400", disse Panos, um barbudo de vinte e poucos anos que participava de uma assembleia ao ar livre, em que se debatiam maneiras de reduzir o ruído na zona com a participação dos moradores. "Se não fosse pelos protestos de dezembro, isso não estaria acontecendo", acrescentou.

Em uma cidade urbanizada de forma anárquica devido à especulação imobiliária, capital de um país de corrupção endêmica em que "todas as instituições estão desacreditadas", diz Panos, a ação direta pode ser a única forma de estabelecer ordem.

Mas também existe um lado obscuro da nova liberdade ateniense. "Estamos em uma situação de terrorismo light", diz Stelios Kouloglou, diretor do novo portal de esquerda Tvxs.gr. Por terrorismo ele não se refere ao vandalismo mais ou menos politizado que já é comum em Atenas; os "carros queimados quase todas as noites"; a destruição de 80 lojas, seis agências bancárias e 37 carros de luxo no fim de março, no bairro de Kolonkai - ironicamente muito perto da loja de roupas da mãe de Alexis - por uma dezena de jovens encapuzados que protestavam contra o julgamento do assaltante de bancos anarquista Giorgios Voutsis-Vogiatzis.

O preocupante não é isso, diz Kouloglou, mas sim a proliferação de grupos de guerrilha urbana cujos alvos, além da polícia e dos banqueiros, também são os meios de comunicação. Em janeiro o grupo Luta Revolucionária - que disparou uma granada contra a embaixada dos Estados Unidos antes dos tumultos - atacou duas vezes escritórios do Citigroup e feriu gravemente um policial em um tiroteio. Um mês depois, um novo grupo - Sekta Epanastaton (Seita Revolucionária) - lançou uma granada caseira contra a sede da rede de TV Alter. Do outro lado, um grupo de supostos neonazistas atirou uma granada de mão pela janela de uma sala de aula em Exarchia, onde se reuniam rebeldes contra o serviço militar.

"Atenas é hoje a 'Laranja Mecânica', com uma violência descontrolada; e nos campi universitários todos querem fazer algo, como a Itália nos anos 1970", diz Kouloglou. "Os grupos violentos e traficantes de droga aproveitam" o histórico refúgio antipolicial da universidade.

Kouloglou - exilado durante os anos da junta - e outros da geração de protesto dos anos 1960 e 1970 se mostram ambivalentes diante da onda de politização e violência juvenil. "Minha filha tem 14 anos; seis meses atrás ela não se interessava por política; agora não fala de outra coisa; isso é maravilhoso, mas as mobilizações estão totalmente desconectadas do sistema político", afirma Yanis Varoufakis, economista da Universidade de Atenas.

Crescem os temores entre os antigos ativistas de que a violência juvenil vá provocar medidas severas por parte do governo conservador de Kostas Karamanlis. Ele já decretou leis de constitucionalidade duvidosa, como a proibição de capuzes nas manifestações, e a contratação de especialistas da Scotland Yard, cujos métodos para controlar tumultos custaram a vida do passante Ian Tomlinson durante a cúpula do G20 em Londres. Ainda que caia o governo Karamanlis, o vencedor das eleições - muito provavelmente o socialista Giorgos Papandreu - "vai herdar uma bomba", avisa Kouloglou.

terça-feira, 7 de abril de 2009

2010 uma odisséia ao planalto

A bestialidade política mais uma vez rouba a cena em tempos pós-modernos. Os paladinos das coligações digladiam entre si em busca da usurpada faixa de chefe de estado que voltou a períodos “democráticos” após a derrocada da balburdia militar. A súbita volatilidade dos direitões, PSDB e DEM aliada ao pauperismo petista e ao “murismo” – se é assim que podemos chamar indivíduos que permanecem em cima da estrutura de concreto - do PMDB rechaçam ainda mais o ardil eleitoreiro nacional.

Mais do que deflagrada, a disputa inexorável por uma vaga como candidato pelo PSDB já se iniciou há algum tempo. Serra e Aécio, como dizem por de trás dos panos articulam apoios incessantes no coração do partido para a tão sonhada candidatura. A política café-com-leite está prestes a virar um amargo cappuccino. Quietinho com um bom mineiro, o neto de Tancredo flerta como uma virgem adolescente com o ex- Movimento Democrático Brasileiro.

O PMDB, “maior” partido brasileiro já esta cansado de papar cadeiras na câmara e senado, Michel Temer e Sarney não escondem de ninguém que para 2010 o partido será a noiva preterida e não mais um cunhado palpiteiro. Nesse viés surge o nome de Aécio, já que trocas podem ocorrer no teatro de operações. Após a escalavrada entrevista de Jarbas Vasconcelos a revista “Veja”, seu pedido de vice-presidente em uma chapa serrista ficou praticamente estagnado.

Já o Partido dos Trabalhadores, em processo célere de campanha, carrega Dilma por todas as obras do PAC no país. Em pesquisas realizadas anos atrás, mais da metade da população não a conhecia, em tempos modernos seu rosto estampa até mascaras de carnaval. Atentada pela face do poder, Dilma já se auto-plastificou em nome da nação. As adjacências dos finais de semana estão para separar os paladinos rumo a Odisséia de 2010.

sexta-feira, 27 de março de 2009

A IMPRENSA ALARMISTA


A "Guerra Urbana", isso mesmo, em letras maiúsculas para denunciar que o País anda no caos da violência. E já não suportamos mais. Seja ao vivo, ali pela TV ou acontecendo com você. Cara a cara com o que há de mais revoltante num ser humano. Mas como resolver esse problema?

As empresas desprezam capacitar jornalistas para enfrentar a violência por causa do custo de um dia de reportagem perdida - que na visão geral de muitos é visto como 'uma folga'.

Na época do caso PCC, por exemplo, a imprensa paulista deu um verdadeiro vexame na cobertura. Aterrorizou a população com muitas informações erradas e, dê certo, no desespero de furar a concorrência, fez cara de assustados. Pouco vi do arcaico e 'engessado' jornalismo na forma que os apresentadores das principais tvs desencadeavam novidades para acalmar a população. Pareceu-me que eram atores representando. As capas dos principais impressos jamais deixariam de publicar fotos com pura violência.


Até o Orkut contribuiu para tamanho pânico. Lembro-me que naqueles dias andei por toda a cidade de São Paulo e não vi uma única pessoa que não estivesse apavorada! Me viam de longe, abaixavam as cabeças e olhavam de canto de olho, com medo e receio. Eu poderia ser o algóz delas?!


A imprensa carioca

Há anos que a imprensa carioca está mais preparada para noticiar os factóides violentos do dia-a-dia do Rio. Por lá, a imprensa não se perde em meio ao tiroteio e não dramatiza os fatos (ao menos com expressões faciais).

Nessa falta de preparo dos jornalistas brasileiros -- principalmente dos paulistas --, quem perde é a população.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Jornalistas e jornalistas

"O jornalista deve ser um combatente, não um expectador".
Por José Carlos Mariátegui

Glória, RJ, sede da rádio CBN, segundo semestre de 2008. A emissora das Organizações Globo convida todas as assessorias dos candidatos à Prefeitura do Rio para discutir as regras e a ordem das entrevistas e a cobertura. Oswaldo Maneschy, representando o PDT, questiona a opção da CBN de utilizar as pesquisas de opinião como critério para definir a ordem das entrevistas. Ele sabe que essas pesquisas já foram utilizadas para fraudar eleições, como ficou claro no escândalo do Pró-Consult.

Marisa Tavares, diretora de jornalismo, acaba aceitando sortear a ordem. Mas sobre o tempo de cobertura, ela sentencia: “Não vou perder tempo cobrindo partido pequeno”. Ao que Maneschy responde: “Nos últimos 20 anos elegemos três governadores no Rio de Janeiro. Isso é partido pequeno, Marisa?”. Ela não respondeu, mas quando o representante do PDT saiu da sala, Marisa comentou: “Maneschy abraçou uma causa... Ele parou nos anos 80”.

Conto essa história porque sinto uma onda reacionária de jornalistas que atualmente vendem sua força de trabalho às corporações de mídia contra aqueles profissionais que escolheram um caminho diferente. Isto fica bastante visível no menosprezo da diretora da CBN em relação ao Oswaldo Maneschy. Para se posicionarem desta forma, esses jornalistas acreditam piamente no mito da imparcialidade. Acham que basta ouvir os dois lados, mas aparentemente não percebem que a vida não é feita em preto e branco. Ou, mais além, parecem não saber que as empresas onde trabalham estão a serviço de um determinado projeto político.

Nesse sentido, pode-se dizer sem medo de errar que todo jornalista abraça uma causa, tanto os que escolhem militar num partido político, ONG ou movimento social, quanto aqueles que suam a blusinha para ingressar numa das poucas corporações de mídia. A diferença é o que cada um defende.

Num país capitalista, autoritário, machista, racista e brutalmente desigual como o Brasil, as corporações de mídia cumprem um papel fundamental para a manutenção do sistema. Enquanto equipamento de controle social, seu objetivo é reduzir a resistência diante de todas essas formas de opressão. Resistência que geralmente se manifesta através dos movimentos sociais, criminalizados pela mídia corporativa e defendidos pela outra imprensa.

Muitas vezes os jornalistas que abraçam a mídia grande não se dão conta deste processo. Como cada vez mais a pauta chega pronta – desde quem pode ser ouvido até o que o ouvido deve dizer, passando pelo fato não desprezível da criteriosa escolha de quem é o “outro lado” autorizado a ser ouvido – esses jornalistas se transformam em autômatos. Toda a formação acadêmica, sobretudo nas áreas de sociologia, filosofia e semiologia vai por água abaixo. Daí William Bonner ter dito que forma uma jornalista em seis meses (melhor teria sido falar em “adestramento”).

Diante desta alienação, voluntária ou não, o resultado é que passam a vida como meros expectadores, incapazes de refletir sobre sua própria profissão e sua missão social. O máximo que conseguem é levantar a voz contra os jornalistas que escolheram caminhos diferentes.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Palestina e o seu arsenal bélico


Militantes palestinos usam estilingues contra a polícia de fronteira israelense durante um protesto contra a construção de um muro de separação em Bilin, próximo a Ramallah.

Sim, eles são perigosos. Lagartixas e besouros cuidado, vocês correm risco de tomar uma "pedra" perdida.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um desafio para o futuro

Por Gabriel Puricelli e Lucia Alvarez (*)

Desde que soube da convocatória para este novo referendo, a imprensa internacional insistiu em dizer que estávamos frente a uma eleição entre democracia e autoritarismo. A fórmula é conhecida e falaciosa. Há reeleições indefinidas em sistemas com altíssima concentração de poder no primeiro ministro e férrea disciplina de partido como Canadá, Reino Unido ou Austrália. Também funciona em regimes verdadeiramente autoritários e repressivos, alguns dos quais aliados estratégicos dos EUA, como o Egito, e esses se mantêm no poder por anos, sem que isso leve a um questionamento de sua classe dirigente.

Uma recontagem dos dez anos do governo bolivariano dá, ao contrário, um indício de sua vocação democrática. Chávez lidou com os embates e resistências da direita mantendo-se sempre dentro dos marcos institucionais e sua única derrota eleitoral foi reconhecida imediatamente, apesar da ínfima diferença que existiu entre o Sim e o Não à proposta de reforma constitucional, que significou um enorme reforço a sua legitimidade em nível nacional e internacional. Em troca, a oposição optou, até a reeleição presidencial de dezembro de 2006 apenas pelo caminho da violência e do enfrentamento. O golpe de estado de 2002, o "paro" petroleiro que deixou o país desabastecido por três meses e a abstenção na eleição parlamentar em 2005 são apenas alguns exemplos.

É certo, contudo, que hoje as condições já não são essas. A situação na Venezuela é muito diferente da da Bolívia e do Equador, países onde também estão sendo impulsionadas refundações políticas mediante reformas constitucionais. Chávez já não lida com a falta de base parlamentar própria, como Rafael Correa, ou com o desafio de uma direita golpista e secessionista, como Evo Morales. Nada o condiciona suficientemente senão para destinar energias em outro sentido que não seja o processo de mudança. A ênfase em manter Chávez para continuar a epopéia transformadora se trata talvez de uma subestimação do próprio processo.

O problema parece ser, então, que este novo intento de impulsionar a reeleição indefinida não faz mais do que reforçar um modelo de planificação estatal contrário ao que a revolução bolivariana determina em suas premissas. Em vez de buscar e armar possíveis candidatos que permitam alternativa, aposta-se numa crescente centralização. Em vez de outorgar ferramentas para o bom funcionamento dos conselhos comunais, as mesas técnicas de água e todas aquelas “instituições” da democratização que hoje têm problemas por conta das travas da burocracia ineficiente – e muitas vezes corrupta -, robustece os mecanismos de um Estado que não se alterou tanto e que permanece contudo um pouco imune ao processo de mudança.

O resultado desta eleição abre por isso uma pergunta e um desafio para o futuro da Venezuela, num contexto de crise internacional aguda e de baixa substantiva do preço de sua principal receita, o petróleo. Esta conjuntura hoje pode alimentar a dependência do Partido Socialista Unido da Venezuela de Chávez, com o risco de desgaste frente a um eleitorado que já mostrou em 2007 não ser incondicional. Ou pode, ao contrário, fortalecer o laço com as bases sociais que a sustentam, acentuando-se assim o processo de democratização e de redistribuição social, e tornando as mudanças que o país vive hoje menos reversíveis.

(*) Membros do Programa de Política Internacional e do Laboratório de Políticas Públicas

domingo, 8 de fevereiro de 2009

XENOFOBIA MUNDIAL... E NADA ACONTECE


Por Thiago Ermano
O termo XENOFOBIA já é velho conhecido de todos. Há décadas é comumente associá-lo a aversão a outras raças e culturas. Atualmente é crescente a onda que afeta o mundo. Com a crise econômica mundial a coisa vêm ganhando proporções preocupantes e contraditórias. E nada acontece.

Barack Hussein Obama foi eleito pelo mundo como o primeiro negro a "administrar" a maior potência econômica mundial, mas os maericanos não toleram imigrantes que trabalham em seus países. É nesse momento de crise que mostra a verdadeira face do capitalismo.
O mundo acompanhou com consternação os protestos de trabalhadores ingleses contra os "concorrentes" portugueses e italianos que trabalhavam na Grã-Bretanha. Se essa atitude salva o emprego de alguém, não há certeza nisso.
Segundo o representante e relator da ONU para os Direitos Humanos dos Migrantes, Jorge Bustamante, a insegurança econômica provocará um aumento da xenofobia e do sentimento antimigratório. "A síndrome nos países de alta imigração é que os migrantes são o bode expiatório da crise, e por isso aumenta a animosidade contra eles", defendeu.

Ele ressaltou que o "ódio em relação ao estrangeiro" é algo que já ocorreu em muitos países com conseqüências violentas, como na Alemanha, na França e na Espanha. Esse tipo de xenofobia não acontece por geração espontânea, mas tem motivações sociais.

LATINOS SOFREM MAIS

Ações políticas, como o pacto sobre a imigração aprovado pelo Parlamento Europeu, sugerem a idéia de xenofobia e racismo. Em apenas seis meses, imigrantes que tentavam entrar no continente, foram barrados (sem motivos delcarados e aparentes, na sua maioria.

A Itália, de Silvio Berlusconi, chegou a delcarar estado de emergência por causa dos clandestinos que vivem no País. Para o governo italiano, o aumento da delinguência é culpa dos imigrantes. Alguns negros foram mortos covardemente! E de novo, nada acontece.

Talvez o medo e aversão sentida por europeus e americanos do Norte nada mais seja do que a insegurança doentia que é carregada dentro da cada um, no decorrer da história brutal da humanidade, sofrida há séculos -- os latinos forem mais.

Na Espanha, são os latinos (novamente) os barrados na alfândega. Nós, brasileiros, somos vistos como nada! O governo brasileiro cria mecanismos de retaliação muito abaixo dos que os espanhóis usam. E novamente, nada acontece.

ORIENTE MÉDIO

Não é apenas na Europa e Estados Unidos que a aversão a estrangeiros está presente. A ONG brasileira de direitos humanos Safernet denúncia: a xenofobia no site de relacionamentos Orkut cresceu mais de 150% no segundo semestre de 2008, na comparação com os seis primeiros meses do ano. Nos seis primeiros meses de 2008 foram recebidos pela entidade 706 denúncias de xenofobia, contra 1876 no último semestre do ano -- correspondente a um aumento de 165%...

E os povos do Oriente Médio sofrem esse ódio, sem sentido algum, na rede brasileira. O mais incrível é saber que esses números se devem ao aumento das tensões no Oriente Médio, culminado pela guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.

E NADA ACONTECE...

Americanos comemoram um presidente negro; os europeus criar a exclusão do humanismo, barram latinos e africanos; brasileiros espalham e pregam na rede mundial o ódio na rede mundial...

Há os que tentam minimizar fatos como esses como "isolados", tentando esconder embaixo do tapete uma corrente contínua de força, à caminho da xenofobia como forma de protecionismo. O mundo está desamparado de si mesmo. Contradições que devem ser repensadas e rediscutidas -- com ricos e pobres. Todos estamos afundando, e pior, no mesmo barco.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O leopardismo imperial

Por Atilio Borón

Finalmente chegou o grande dia. Toda a imprensa mundial fala exclusivamente da nova era aberta pelo acesso de Barack Obama à Casa Branca. Isto confirma os prognósticos pessimistas acerca do papel retrógrado que os meios de comunicação do establishment cumprem ao aprofundar, com as ilusões e enganos da sua propaganda, a conversão à "sociedade do espectáculo", uma involução social onde o nível intelectual de grandes segmentos da população é rebaixado sistematicamente através da sua cuidadosa deseducação e desinformação. A rebaixante "Obamamania" é um magnífico exemplo disso.

Obama chegou à presidência dizendo que representava a mudança. Mas os indícios que surgem da conformação da sua equipa e das suas diversas declarações revelam que se há algo pelo que a sua administração primará é pela continuidade e não pelas mudanças. Haverá algumas, sem dúvida, mas serão marginais, em alguns casos cosméticas e nunca de fundo. O problema é que a sociedade norte-americana, especialmente no contexto da formidável crise económica com que se debate, precisa mudanças de fundo, e estas requerem algo mais que simpatia e eloquência no discurso. É preciso lutar contra adversários ricos e poderosos, mas nada indica que Obama esteja sequer remotamente disposto a considerar tal eventualidade. Vejamos alguns exemplos:

Mudança? Designando como chefe do seu Conselho de Assessores Económicos Lawrence Summers, antigo secretário do Tesouro de Bill Clinton e artífice da inaudita desregulamentação financeira dos anos noventa, provocadora da actual crise? Mudança? Ratificando como secretário da Defesa Robert Gates, designado por George W. Bush para conduzir a "guerra contra o terrorismo" por agora encenada no Iraque e Afeganistão? Mudança? Com personagens como o próprio Gates, ou Hillary Clinton, que apoiam sem restrições a reactivação da quarta frota destinada a dissuadir os povos latino-americanos e caribenhos de antagonizar os interesses e os desejos do império? Na sua audição perante o Senado, Clinton disse que a nova administração Obama deveria ter uma "agenda positiva" para a região, para neutralizar "o medo espalhado por Chávez e Evo Morales". Seguramente referir-se-ia ao medo de superar o analfabetismo ou terminar com a ausência total de cuidados médicos, ou ao medo que geram as constantes consultas eleitorais de governos como o da Venezuela ou da Bolívia, muito mais democráticos que o dos Estados Unidos, onde ainda existe uma instituição tão opaca como o colégio eleitoral que permitiu, como ocorreu em 2000, que George W. Bush derrotasse nesse âmbito antidemocrático o candidato que havia obtido a maioria do voto popular, Al Gore? Poderá esta secretária do Estado representar alguma mudança?

Mudança? Quando o líder político ficou fechado num estrondoso mutismo perante o brutal genocídio perpetrado em Gaza?

Que autoridade moral tem para mudar algo quem actuou desse modo? Como se pode supor que representa a mudança uma pessoa que diz à cadeia televisiva Univisión que "Chavéz foi uma força que impediu o progresso da região, (…) que a Venezuela está a exportar actividades terroristas e a dar abrigo a entidades como as FARC"? Tal despropósito e semelhantes mentiras não podem alimentar a mais pequena esperança e são confirmadas pela nomeação como um dos principais conselheiros sobre a América Latina do advogado Greg Craig, antigo assessor da inefável Madeleine Albright, ex-secretária de Estado de Bill Clinton, a mesma que dissera que as sanções contra o Iraque após a primeira Guerra do Golfo (que custaram entre meios milhão e um milhão e meio de vidas, predominantemente de crianças) "tinham valido a pena". Craig, como advogado, representa ainda Gonzalo Sánchez de Lozada, cuja extradição para a Bolívia foi solicitada pelo governo de Evo Morales para ser julgado pela repressão selvagem das grandes insurreições populares de 2003 que deixaram um saldo de 65 mortos e centenas de feridos. As suas credenciais são, pelo que vemos, perfeitas para produzir a tão desejada mudança.

Na mesma entrevista, Obama manifestou-se disposto a "suavizar as restrições às viagens e às remessas para Cuba", mas esclareceu que não contempla pôr fim ao embargo decretado contra Cuba em 1962. Disse ainda que poderia dialogar com o presidente Raúl Castro sempre e quando "La Habana se mostrar disposta a desenvolver as liberdades pessoais na ilha". Enfim, a mesma cantilena reaccionária de sempre. Um caso de gatopardismo de estirpe pura: algo tem de mudar, neste caso a cor da pele, para que nada mude no império.

Artigo veículado no site resistir.info

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Reclama aí Malu!

Malu Xavier · Olinda (PE) · 20/12/2006 14:34

Irrita-me muito quando eu vejo alguém limpando a calçada com jatos d'água.
O cara aqui do prédio do lado faz isso. Toda semana pega a mangueira e começa a tirar folhas do telhado e do chão empurrando-as com a água que sai da mangueira.
Mas que desperdício, hein? Vai pegar uma vassoura, ô filho da puta.

Talvez porque eu seja meio que a defensorazinha da natureza, que já fica com a consciência pesada quando toma um banho mais demorado(caô) ou quando deixa a torneira aberta enquanto escova os dentes ou quando gasta papel à toa.

Outro dia no ônibus uma mulher jogou um papel de bala pela janela e eu, sentada no banco ao lado dela, disse "Tem uma lixeira ali do lado, por que tu atirou o papel pela janela?", quando na verdade o que eu queria era ter dado um 'pedala-robinho' nela e saído correndo.
O pior é que, no fundo, esses detalhes não valem quase nada. Porque aí tu liga a TV e vê um navio derrubando 10 toneladas de petróleo numa baía, uma empresa despejando todo lixo num rio, um país não querendo assinar o tratado mundial da preservação do meio-ambiente.

Segue minha teoria: 95% das pessoas são burras e, das 5% que restam, 95% se esforçam pra também ser. E eu odeio pessoas burras.

* Essa é para complementar o texto acima:

"confesso que ele tem a razão, tanto que shows como Fresno e Lyse em porto alegre era tudo muito bom mas agora tudo é Fresno e todo mundo é emo. Tá foda, mas ainda escuto e ainda considero. Mas confesso,que foi uma palhaçada a saida do Lezo porque ele esta desde o inicio e ajudou muito a banda pra colocarem outro baixista como se nada tivesse acontecido por essas e outras o Fresno mudou sim e não foi pra melhor"

Eu juro que não sei de quem é a culpa. Das escolas? Dos professores? Da internet? Como estas pessoas vão escrever uma redação para o vestibular?

Isso só comprova minha teoria de que a burrice entre os adolescentes está em plena ascensão, e no ano 2060 o mundo vai acabar por alguma estupidez humana.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fórum Social Mundial pede socorro em nome da Amazônia


Por Agência Efe


Milhares de pessoas lançaram um grito de socorro em nome da Amazônia, na primeira das diversas atividades do Fórum Social Mundial, que começa hoje em Belém.

Recebidos por uma multidão, cerca de 1.500 índios e ativistas de grupos ambientalistas que participam do encontro contra a globalização se reuniram no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) para formar a frase "Salvem a Amazônia".Índios de Brasil, Bolívia e Peru se juntaram no ato com ativistas de América Latina e Europa, a maioria dos participantes do Fórum Social Mundial.

A índia aimara boliviana Viviana Lima, que viajou de La Paz a Belém para o encontro, disse à Agência Efe que o ato era também "uma homenagem à Pachamama", como os índios do Planalto chamam a "Mãe Terra"."Viemos ao fórum para que todos possam escutar a voz dos povos indígenas, que não querem ver suas terras e suas águas transformadas em mercadorias", apontou.
O ato, fotografado de dois helicópteros que sobrevoavam o campus da UFRA, foi organizado por líderes indígenas e grupos ambientalistas americanos e europeus, como a Amazon Watch, Amazon Alliance, Rainforest Action Network e o SpectralQ.Segundo a Amazon Watch, a intenção foi "chamar a atenção sobre o aumento do problema ecológico e social das selvas amazônicas".

Em comunicado, a ONG afirmou que a Amazônia está "sob uma ameaça grave pela expansão industrial, agrícola e urbana, e se aproxima rapidamente de um ponto crucial"."Quase um quinto da floresta amazônica foi desflorestada nas últimas quatro décadas, e a cada ano, entre 11 mil e 27 mil quilômetros quadrados de florestas são destruídos", disse a Amazon Watch.

Além disso, a ONG indicou que "se os planos de desenvolvimento para a Amazônia continuarem sem controle, esta região primordial para a estabilidade climática, estará à beira de uma permanente ruína ecológica em um período de 10 a 20 anos", o que vai acelerar o processo de reaquecimento global.

O Fórum Social Mundial, que começará formalmente hoje com uma grande manifestação pela paz e a Justiça social, terá este ano um forte conteúdo ambiental.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Feliz Aniversário, envelheço na cidade


Parabéns! É um orgulho participar de sua história. São Paulo, 455 anos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sebo não é depósito de papel velho

Por Isabella Mendonça

Em Portugal a palavra alfarrábio ainda é usada para designar um livro velho e também uma livraria de livros antigos, e o alfarrabista é aquele que os comercializa. No Brasil, a livraria que comercializa livros usados é conhecida como sebo. Desconhecemos a época em que essa palavra passou a ser adotada em nosso país, mas certamente deriva da idéia de que um livro usado é ensebado pelo próprio manuseio constante. E o livreiro de livros usados, ainda de acordo com o Aurélio é sebista. Além dessa indagação, com freqüência sou surpreendida com exclamações de surpresa, de pessoas que desconhecem completamente essa atividade. Há aquelas outras ainda, que apesar de a conhecerem, não adquirem livros usados pois acreditem, pasmem, que o livro velho pode ser transmissor de doenças, entre outras coisas.

É claro que, numa sociedade de consumo como a nossa, onde a idéia de sucesso pessoal está ligada ao poder aquisitivo da novidade, do último modelo de carro à roupa da moda, a idéia do livro velho soa, para muitos, como uma extravagância. Felizmente, não é assim que a confraria de iniciados pensa. Os chamados ratos de sebo, que vasculham as prateleiras com a volúpia de quem garimpa tesouros, aquela edição procurada há anos, ou simplesmente à busca do prazer da surpresa, às vezes contido simplesmente no manuseio do livro, no apreciar sua arte gráfica ou no percorrer os olhos pelas ilustrações, como verdadeiro objeto de arte, de conhecimento e de paixão. Para esses, nada é comparável à surpresa, à alegria do "achado". Um volume que, certamente já passou pelas mãos de tantos, sem que lhe tivessem notado o valor, que pode ir desde o simples gosto pessoal por determinado assunto, uma peça da coleção que cada um estabelece para si, uma primeira edição de poucos e raros exemplares no mercado, uma encadernação artística, enfim, um exemplar que represente para o seu "descobridor" algo especial ou apenas necessário a um trabalho de pesquisa.

Para se ter uma idéia do perfil desse devorador de alfarrábios, ele tem em média mais de 30 anos, quase sempre possui instrução de nível superior, possui uma cultura geral bastante boa, e adora trocar informações e contar histórias, como todo bom pescador.

Com o elevado preço dos livros, outro consumidor descobriu a vantagem do livro usado: o estudante (ou os pais do estudante) que, antes de o procurarem nas livrarias convencionais, fazem uma pesquisa no sebo à busca de um exemplar que, na maioria dos casos, custa menos de 50% do novo. Como cada vez se lê menos, e o nosso é um país de pessoas com menos de 30 anos, este novo consumidor é o que realmente mantém os sebos em atividade. Além desses consumidores, há outro tipo de pessoa que procura o sebo após uma limpeza na casa e um desejo urgente de se livrar do lixo acumulado durante anos. O que é pior, na maioria das vezes é lixo mesmo, que vai de cadernos escolares dos filhos que já casaram a livros de primeiro grau já totalmente rabiscados, rasgados, cheirando a mofo pelo longo tempo armazenado em úmidos porões. Essas pessoas confundem sebo com depósito de papel velho e ficam muito indignadas quando o livreiro se nega a receber o produto da faxina, mesmo de graça. Não entenderam o valor e o verdadeiro papel de uma livraria de livros usados, preservadora da memória do município, do estado, do país, do planeta, guardiões de tesouros do saber, que fazem circular obras às vezes editadas apenas uma vez e, não fossem esses caminhos mágicos do percurso do livro, seriam transformados em tiras para reciclagem. Um sebo não é depósito de papel velho e muito menos um mero comércio, um sebo é um repositório da memória. "LIVRO NOVO É AQUELE QUE VOCÊ NÃO LEU. EXPERIMENTE."

Compacto extraído de diálogo com autor do blog http://blog.alpharrabio.com.br

domingo, 18 de janeiro de 2009

O MST DE ONTEM E DE HOJE


Por THIAGO ERMANO

Desde o nascimento, a história do MST (Movimento dos Sem Terras) é marcada por lutas armadas, greves de fome e discussões - muitas vezes sem resultado - com representantes do governo.

Na década de 1980 o êxodo rural, a internacionalização do Brasil e o abandono dos trabalhadores do campo fizeram do MST ganhar força e ser visto de perto por muitos como radicais e indesejáveis por governos de direita, entidades de classes intelectuais e outros grupos, que mantinham o País nas mãos.

O movimento nasceu pelo cansaço e revolta de subexistir às margens do Brasil em evolução. Eram trabalhadores do campo que plantavam de tudo para o que viviam nas cidades. Chegava a hora de reagir e exigir o que a terra poderia lhes dar, além de comida: um título, um lugar próprio e que ninguém pudesse tirá-los do lugar onde sempre trabalhariam em prol do sustento.

A religião também ajudou nesse movimento social. Com a expulsão de muitas famílias em engenhos, a fome, o desânimo e a fé foram pontos marcantes para a busca de condições melhores para os pequenos agricultores campesinos.

Cinco anos depois, as condições sub-humanas em que viviam as famílias rurais - e que migravam cada vez mais para zonas urbanizadas, em busca de terras para tomarem posses - já eram discutidas no 1º Congresso Nacional dos Sem Terra.

O movimento conta hoje com cerca de 400 associações de produção, comercialização e serviços. São 49 Cooperativas de Produção Agropecuária, com 2299famílias associadas. O movimento mantém 32 Cooperativas de Prestação de Serviços com 11174 sócios diretos - duas Cooperativas Regionais de Comercialização e três Cooperativas de Crédito com 6521 associados.

UMA MANCHA NA HISTÓRIA DO BRASIL: O MASSACRE DE CARAJÁS

No dia 17 de abril de 1996, o 19 sem-terra foram executados pela Polícia Militar do Pará, após um confronto com 1500 ocupantes que estavam acampados na região. A ação campesina não era violenta, apenas marchava em protesto contra a demora da desapropriação de terras na região que nada mais produziam. A ordem para a ação policial partiu do Secretário de Segurança do Pará, Paulo Sette Câmara para que eles fossem retirados à força, desobstruindo a rodovia PA-150, que liga a capital Belém ao sul do estado.

Paulo Sette Câmara declarou depois do ocorrido que autorizara "usar a força necessária, inclusive atirar". De acordo com os sem-terra ouvidos pela imprensa na época, os policiais chegaram ao local jogando bombas de gás lacrimogêneo. Os sem-terra revidaram com foices, facões, paus e pedras. A luta estava armada...

Acuada pelo revide inesperado, a polícia recuou atirando. Além das 19 pessoas que morreram na hora, outras sessenta e sete ficaram feridas. Anos depois, outras duas morreram, vítimas das sequelas deixadas pelo confronto sangrento.

Segundo o legista Nélson Massini, que fez a perícia dos corpos, pelo menos 10 sem-terra foram executados. Sete lavradores foram mortos por instrumentos cortantes, como foices e facões.

O ministro da Agricultura da época, Andrade Vieira, encarregado pela reforma agrária, pediu demissão na mesma noite. O caso ganhou repercussão internacional, o que fortaleceu o ideal do movimento.

Ainda hoje a violência no campo tem ganhado destaque nas estatísticas da luta pela terra em todo o País. Só no ano passado, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, houve 1690 casos de crises no campo, envolvendo mais de um milhão de pessoas e resultando na morte de 73 agricultores. Os índices alcançados no primeiro ano do Governo Lula são os mais altos desde 1985.

VITÓRIAS E FRUSTRAÇÕES: 25 ANOS DE MST

O movimento de esquerda, que tem como objetivo a luta em defesa dos direitos camponeses chega aos 25 anos bem diferente de seu começo desbravatório. Mais politizado e, de certo, mais polido, perdeu espaço nas lutas sociais do País a partir de 2002, com a chegada de um dos principais militantes de esquerda do Brasil à presidência da república: Lula. Com os auxílios "sociais" concedidos pelo Governo Federal (como o Bolsa Família), a diminuição de acampamentos caiu drasticamente (quase 90% dos que buscavam um espaço já estão assentados) perdeu-se a razão de lutas mais agressivas em busca dos objetivos.

Uma pesquisa do Data Folha, de 1996, mostrou que para centenas de membros do MST, a razão para a entrada no movimento era atribuída a questões econômicas, ou seja, condições de pagar o que se come e onde se mora. Não que esse número signifique a Reforma Agrária brasileira. Segundo dados fornecidos pelo Governo Federal, entre 2003e 2007, 68,5% dos sem-terra foram assentados na Amazônia Legal. Bem longe das bases tradicionais das regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

A bandeira vermelha petista virou oposição para o MST. Segundo o professor da UNESP, Bernarndo Fernandes, "o papel atual do movimento é seguir lutando para o desenvolvimento a partir dos paradigmas que defendem o campo como lugar de vida, onde as pessoas possam produzir produtos saudáveis, recuperando ambientes degradados pela produção monocultura de grande escala".

Já vai tarde!

Ficarão impunes?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu posso passar? Aliás, é o meu direito passar!

Três semanas de genocídio estão sendo completadas em Gaza. Em seu 21º dia de invasão, Israel já tirou a vida de 1.100 palestinos e feriu mais de 4000. A população de 1,5 milhão de habitantes sofre com o massacre que estende-se a conflitos bem maiores.

A cada passo dado, Ehud Olmert, premiê de Israel regozija-se pelos feitos do seu exército sionista. Tempos atrás, a guerra de Olmert era contra a sua própria imagem. Desgastado por índicios de corrupção, o premiê conta hoje com o apoio de todos os soldados israelenses. Se um militante do Hamas for assassinado diáriamente, isso significa o apoio de um cidadão hebreu por dia.

Ex-Mossad, a ministra do Exterior, Tzipi Livni argumenta que o principal alvo de Israel é o Hamas. Por que então, um regime democrático como é o caso do país da ministra, não usa de diplomacia e negocia com o grupo considerado terrorista, já que o mesmo grupo foi eleito democraticamente pela população palestina? Said Siam, ministro do interior, foi assassinado por bombardeios aéreos israelenses ontem enquanto permanecia em seu escritório. Serão atos como esse um desrespeito a democracia civilizada?

Para onde irá a população desamparada que vive em Gaza? Enquanto egípcios e americanos descorrem sobre como alcançar uma trégua, os cidadãos palestinos fogem de problemas muito piores que capsulas de armas modernas, a fome. Em cenário de destruição, fica difícil enchergar um horizonte de esperanças, pois o grande muro construído por Israel atrapalha a vista.

Sem escolas, comida, água, remédios e vestimenta, alguém ainda acredita que o calado Obama irá apaziguar o panorama catastrófico no Oriente Médio? Apenas lembrando que 80% da economia estadunidense é controlada por judeus.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Será medo?


A ofensiva já atinge o seu 19º dia consecutivo. Pedras, destruição e corpos. Atualmente a paisagem em Gaza não é a das melhores, nem crianças são poupadas pelos nazi-semitas. Mais de 900 palestinos, a maioria civis foram mortos pelo poderio militar israelense. Qual será o limite?

Hizbollah ou Resistência Árabe Islâmica. Por que Israel tem tanto medo de abrir outra frente de batalha?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Teorias primatas e revolução externa aos meios de comunicação - Parte I


Muito me entristece a obrigação moral de escrever esta declaração, pois jamais imaginaria, nem em meus mais profundos pesadelos, a cruel e medonha situação atual do jornalismo e cultura brasileiros. Brasileiro, somente, por ser exercido por nativos, os quais são escolados, baseados e residentes em outras nações.

Me encara de frente! É que você nunca quis ver, não vai querer entender meu lado, meu jeito. O que eu herdei de minha gente nunca posso perder. Me larga!”

As revoluções podem até serem alusões de acontecimentos estrangeiros, no entanto, a necessidade da participação do conflito interno é primordial. Independendo da área ou idade, isto é um fato, portanto não me venham chamar de revolucionária uma pré-adolescente, anti-escola que canta em inglês.
A revolução começa aqui! Na sua língua, no seu dialeto, na sua origem! De nada adianta pregar tropicalismo sobre as frases da Madonna.

Tendo dito isso, prossigamos para os próximos da escala. Os grandes tubarões do jornalismo. A elite, os consagrados que opinam sobre a guerra de terceiros sem as devidas atualizações, bem como a famosa lenta da imparcialidade, a grande lenda do jornalismo.


Homem primata. Capitalismo selvagem.”

Aos senhores jornalistas/ colunistas da Folha de S. Paulo,
Um pouco de respeito, se não pela profissão exercida, pelo dinheiro pago pela população na compra do jornal.

Aparentemente a teoria da evolução... é só teoria.
MAS já que a revolução começa aqui, comecemos entendendo nosso próprio hino.

Hino Nacional Brasileiro
Parte I

As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado [grito] retumbante [ressoante] de um povo heróico, e nesse instante, o sol da liberdade brilhou no céu da pátria em raios fulgidos [brilhantes].

Se conseguimos conquistar com braço forte o penhor [garantia] desta igualdade em teu seio, ó Liberdade, o nosso peito desafia a própria morte.

Ó pátria amada, idolatrada. Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vivido de amor e de esperança desce à terra se a imagem do cruzeiro resplandece [brilha] em teu formoso céu risonho e límpido [nítido].

Gigante pela própria natureza, és belo, és forte impávido [destemido] colosso [pessoa agigantada, grande poderio], e o teu futuro espelha essa grandeza, terra adorada.

És tu, Brasil, entre outras mil, ò pátria amada.

Brasil, ó pátria amada, És mãe dos filhos deste solo gentil, ó pátria amada.

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.

Fulguras [brilhas], ó Brasil, florão [jóia] da América, iluminado ao sol do Novo Mundo.

“Nossos bosques tem mais vida, nossa vida, no teu seio, mais amores”. E teus risonhos, lindos campos tem mais flores do que a terra mais garrida.

Ó pátria amada, idolatrada. Salve! Salve!

Brasil, que o lábaro [bandeira] que ostentas [adota] estrelado seja símbolo de amor eterno, e que o verde louro desta flâmula [bandeira] diga: “paz no futuro e glória no passado”.

Mas, se ergues a clava [bastão] forte da justiça, verás que o filho teu não foge a luta. E quem te adora, não teme a própria morte.

És tu, Brasil, entre outras mil, ò pátria amada.

Brasil, ó pátria amada, És mãe dos filhos deste solo gentil, ó pátria amada.