terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gueto

O cerco israelense à Faixa de Gaza intensificou-se nas últimas horas. De acordo com o ministro da Defesa de Israel , Ehud Barak, o país declarou ' guerra aberta ' ao Hamas, prometendo usar todos os meios para acabar com os disparos de foguetes palestinos.

Um verdadeiro avanço militar está sendo formado para apagar o pequeno território islâmico do mapa. Mais de 300 ataques aéreos e dezenas por mar desde sábado, 26 tanques estão na fronteira de Gaza e 6.500 reservistas serão convocados.

Como havíamos descrito no post anterior, este blog é totalmente favorável aos amigos palestinos que a décadas sofrem com os interesses mesquinhos e capitalistas dos israelenses. Adolf Hitler fez na Segunda Guerra Mundial o que Israel faz agora, a dizimação de um povo, que ao contrário da grande maioria judaica não possui bens de valor, há não ser à própria vida, jogada as traças por soldados apoiados pelos governos ocidentais.


Breve mais comentários.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

FORÇA À PALESTINA


Este blog é amplamente favorável a causa PALESTINA.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Macacada reunida e às favas os escrúpulos

A meu ver a presidência dos Bush foi como uma longa música - de no total 12 anos – de Johnny Cash: sangrenta; descarada, no entanto, sem culpa e repetitiva. Tudo isso só que do lado negro da força.

Retrospectiva, por assim dizer, da Guerra do Golfo versão pingue-pongue:
1990:
Julho
Saddam Hussein, então presidente do Iraque, para Kuwait: “Ei! Você causou a queda dos preços do petróleo! Pague!”
Pensamento: “Hum... saída para o mar!”
Kuwait: “A-am!”

Agosto
2. Com o objetivo de controlar os campos de petróleo, tropas iraquianas invadiram o Kuwait: “Tome isto, bastardo!”
4. Conselho de Segurança da ONU: “Pensei que aqui fosse um país livre! Chega disso! Boicooooteeem!”
28. Saddam para ONU: “Sai fora do meu território! Ha-ha-ha”
Kuwait anexado como a 19ª província do Iraque.

Outubro
Enquanto isso, no lustre do castelo:
ONU para George Bush, que, sentado em sua poltrona, observava e esperava o relato de sua cria: “Paaaai, ele me enfrentou!”
Bush-Pai: “Não se preocupe, querida. Papai vai dar uma lição neste terrorista de uma figa!”

Novembro
29. ONU para Saddam: “Eu contei tu-do pro meu pai! Você vai ver só, se não sair até 15 de janeiro de 1991”
- Coincidentemente, liderada pelos EUA, uma coalizão de 29 países foi reunida.

1991:
Janeiro
17. Bush-Pai para Saddam Hussein: “Filho, eu te avisei!” – ataque aéreo.
- Destaque: Grã-Bretanha, França, Arábia Saudita, Egito e Síria.

Bombas, tiros e sangue até que ninguém mais se lembrasse por que a droga da Guerra havia começado.
Sábias palavras do Padre Madruga ao dizer que “o orgulho é a fonte de todos os pecados”. Guerra é a vontade de um indivíduo ter o que não lhe pertence, e para isto, dispõe da vida de milhões.

Retrospectiva, por assim dizer, da Guerra do Iraque versão pingue-pongue:
1991-2001
Nos EUA
“É... A macacada reunida! Rapazeada sambando, xingando, rodando na pista!”
Bush-Baby e Bush-Pai: “Pai, estive tendo umas idéias, sabe? Acho que não quero mais ficar a toa, falindo negócios e fazendo você passar vergonha às escuras. Quero fazer mais coisas!”
Bush-Pai: “Filho, eu não poderia estar mais feliz! O que você quer fazer?!”
Bush-Baby: “Quero ser presidente dos Estados Unidos da América!”

No Iraque
Osama Bin Laden, Mohamed Atta, Aymán al-Zawahirí, Abu-Yasir Rifa'i Ahmad Taha, Shaykh Mir Hamzah, e Fazlur Rahman cochicham e: “Pronto!”

Janeiro
20. Bush-Baby: “Obrigada, papi! E família! Vocês não se arrependerão!”
Al-Gore: “Mãos a obra, vamos ter muito o que consertar, é uma verdade incoveniente!”

Até Setembro:
Bush-Baby: “Hum-hum! Eu amo golfe! Hum-hum!”
11. Torres Gêmeas. Fatwa: apoio militar a Israel; ocupação militar da península arábica e agressão contra o povo do Iraque.
– Bush-Baby: “Ahh... hhhh”

Até 2003:
Bush-Baby: “Ahh…hhh”
População: “AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!”
Idéia: “Eles têm bombas nucleares! Ditador! Papi, irei vingar-te!”

Guerra, ocupação e morte de inocentes.

2008:
Janeiro
“E tá faltando emprego no planeta dos macacos!”

Novembro:
Barack Obama – A salvação.

Dezembro:
Presente de Natal de Bush-Baby:
15. Tentativa de sapatada do jornalista iraquiano Muntazer Al Zaidi.

Sinceramente, o que são duas sapatadas comparadas a toda destruição do planeta dos macacos?!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ato Institucional nº 5, decretado em 13 de dezembro de 1968.


Passaram-se 40 anos! Você já se esqueceu?
Nós não!
Quem ganhou no final das contas? O que mudou? Quem apoiou?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Jornalista que atirou sapato é espancado na prisão, diz irmão.

Pela BBC

O jornalista iraquiano Muntadar al Zaidi, que atirou um sapato contra o presidente americano, George W. Bush, neste domingo (14), foi espancado na prisão, afirmou o irmão do repórter à BBC. Segundo ele, Zaidi teve a mão e as costelas quebradas por conta do espancamento e teria sofrido sangramento interno e um ferimento no olho.

A BBC tentou entrar em contato com o Conselheiro de Segurança Nacional iraquiano, Mowaffaq al Rubaie, mas ele não estava disponível para comentar as alegações feita pelo irmão do jornalista. Dargham, irmão do repórter, disse que acredita que Zaidi tenha sido levado a um hospital militar americano em Bagdá.

Ele disse ainda que vários advogados se ofereceram para ajudar o irmão, mas que nenhum deles teve acesso a Zaidi desde que ele foi detido.

Desde o incidente, diversos protestos foram realizados no Iraque em apoio ao jornalista e pedindo sua libertação. Autoridades iraquianas afirmaram que o jornalista será processado de acordo com a lei iraquiana, mas ainda não está claro as acusações que ele deverá sofrer.

Imagens demonstram que Bush falava ao lado do primeiro-ministro do Iraque, Nuri al Maliki, quando o repórter se levantou, a cerca de um metro de distância do americano, e gritou, em árabe: "este é o seu beijo de despedida, seu cachorro". Bush desvia dos sapatos antes de o jornalista ser contido e arrastado para fora da sala. Bush minimizou o incidente.

No Iraque, atirar um sapato contra alguém é considerado um grande insulto, pois significa que o alvo é inferior a um sapato, sempre em contato com o chão e a sujeira.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Hamas anuncia que trégua com Israel provavelmente não será renovada.


Por AFP.

A trégua na Faixa de Gaza com Israel até 19 de dezembro "provavelmente não será renovada", declarou neste domingo em Damasco Khaled Mechaal, líder no exílio do movimento radical Hamas, que controla este território palestino.

"Khaled Mechaal disse que é provável que a trégua não seja renovada", destaca o Hamas em um comunicado. Mechaal, que vive em Damasco, fez a declaração em uma entrevista para o canal de televisão por satélite Al-Qods, que tem sede em Beirute. A entrevista foi realizada por ocasião do aniversário de 21 anos do Hamas.

Outras autoridades do Hamas deram a entender que a trégua, obtida em 19 de junho por mediação do Egito - pode não ser renovada.

O primeiro-ministro do governo do Hamas, Ismail Haniyeh, declarou: "Depois de seis meses de trégua, as facções tiveram várias reuniões em Gaza e no exterior para avaliar a situação e seu respeito por Israel".

"A avaliação foi negativa", declarou Haniyeh no discurso que fez durante a celebração em Gaza pelo aniversário do Hamas.
A trégua sofreu um duro golpe em 5 de novembro, com uma operação do Exército israelense na fronteira da Faixa de Gaza. Em represália, os grupos armados palestinos retomaram os disparos de foguetes contra o Estado hebreu.

Israel respondeu com um bloqueio ainda mais rígido sobre a Faixa de Gaza.
No entanto, Israel se disse favorável a manter a trégua em Gaza se o movimento radical Hamas, a respeitar, afirmou o porta-voz do primeiro-ministro israelense Ehud Olmert.

"Israel está interessado em que a calma reine no sul (perto da Faixa de Gaza). Estava e continua estando disposto a respeitar os compromissos obtidos com a mediação do Egito", declarou à AFP o porta-voz Mark Regev.

"É evidente que não pode existir uma situação de calma de maneira unilateral, se todos os dias são disparados foguetes contra Israel a partir de Gaza", acrescentou.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Creu: uma filosofia de vida

Ao seguir meu caminho laboral todas as manhãs pela longa, cruel e belíssima Avenida Paulista, percebi o ritmo maquinário dos passos, inclusive os meus próprios, dos semi-executivos burgueses paulistas. Percebi, também, que os olhos dos pequenos burgueses e proletários caminhantes não passam da linha do horizonte, e, no meu ócio matinal, me perguntei: por quê?

Sempre que posso, a pé ou da janela imunda do ônibus, olho para o céu e não para ver se choverá - independente de onde venha e para onde vá, o céu nunca é o mesmo. Foi então que surgi com a idéia da filosofia de vida creu.

Toca, Raul!


Parafraseando, novamente, Raul Seixas: “A solução pro nosso povo eu vou dá. Negócio bom assim ninguém nunca viu. Tá tudo pronto aqui é só vim pegar: a solução é alugar o Brasil!...”.

Ao voltarmos às origens da terra de palmeiras de Gonçalves Dias percebemos que fomos sempre cópias, impostas e voluntárias, de outras culturas. Começando por Portugal e Espanha que, perdoem-me a expressão, plantaram a semente ignorante que foi, e ainda é, abundantemente regada pelos Estados Unidos da América.

Copiamos em todos os aspectos da sociedade: econômico, político e cultural. No entanto, apesar da população ser obrigada a votar, não existente uma grande consciência e participação política no Brasil. Bom, o que dizer sobre a economia em um país onde os colarinhos brancos ganham no mínimo cinco vezes – isto sendo extremamente ingênua – do que o resto do povo?
E quem não trabalha homenageia papai e mamãe: “Tim-tim, a tua corte agradece. Um brinde, o nosso astro merece. Ao teu fã-clube fiel dá autógrafo em talão de cheques. Big boss, tua mão aberta enobrece, dignifica, nós que sonhamos em espécie. Classic vira rolex sob o luar do teu deck...”.

Já a cultura atinge a todos, independente de classe social, cor ou credo. E, para o fabuloso papel principal do emburrecimento mundial entra em cena: o Tio Sam! Por que uma música em inglês que fala sobre uma suposta loja de doces e pirulitos faria sucesso e uma música nacional sobre velocidades não? Me parece hipócrita e injusto, mas a justiça tarda mais não falha.

E hoje, a sociedade escolhe como representates do povo mulheres frutas, com pouca ou nenhuma roupa; canta com orgulho e habilidade as tais velocidades, e suas, por assim dizer, manobras sexuais preferidas; e ainda faz questão de divulgar uma festa nacional que mistura as duas opções anteriores com bebidas alcoolicas a preço de bala.

Será que realmente parece fora do normal crianças de 13 anos grávidas? Gringos milionários se dando ao trabalho de virem até aqui para movimentar o mercado sexual?

Estou começando, seriamente, a reconsiderar as posições da escala de evolução.



“Cão retira corpo de animal atropelado em rodovia no Chile”.

O que está por vir?

O que faz odiarmos tanto os índios?

Raposa Serra Do Sol?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A verdadeira geração X

Thomas L. Friedman. Colunista do The New York Times

Ultimamente venho pensando muito no livro "The Greatest Generation" (a maior geração) de Tom Brokaw, aquele clássico sobre nossos pais e seus sacrifícios incríveis durante a Segunda Guerra Mundial. Foi nisso em que pensei: que livro nossos filhos escreverão sobre nós? "A Geração Mais Gananciosa?" "A Geração Complacente?" Ou talvez: "A Geração Subprime: Como meus pais resgataram a si mesmos de seus excessos debitando tudo no meu cartão de crédito".

Nossos filhos deveriam ser muito mais radicais do que são hoje. Eu entendo por que não são. Eles estão preocupados demais apenas em conseguir um emprego ou pagar o ensino do próximo semestre. Mas não devemos considerar o quietismo deles como licença para fazermos o que quisermos com esse dinheiro de resgate. Eles terão que pagar por esse dinheiro. E, portanto, temos uma obrigação incrivelmente pesada de assegurar que não apenas gastaremos sabiamente cada dólar do estímulo, mas também com um olho voltado à criação de novas tecnologias.

Nós precisamos não apenas resgatar nossas indústrias do passado, mas construir as indústrias do futuro -oferecer o tipo de grande pensamento e tomada de risco que transforma enormes desafios em oportunidades que mudam o mundo. Foi isso o que tornou grande a Maior Geração. Esse dinheiro não pode servir apenas para remendar nossos calhambeques.

"Lembrem-se, esse dinheiro não será neutro", disse Andy Karsner, o ex-secretário assistente de energia dos Estados Unidos. "Nós estamos falando em direcionar um volume sem precedente de dinheiro para nossos setores de habitação, energia, transporte e infra-estrutura. Esse dinheiro ou fortalecerá os agentes encarregados e calcificará o status quo de energia, ou facilitará a transformação econômica que buscamos. O estímulo ou será as células brancas do sangue que nos curarão ou as células malignas que continuarão minando nossa força."

Vamos ser específicos. Quando se trata de Detroit, meus pontos de vista são claros: nós devíamos falar em "fiança", não "resgate", em relação às pessoas que dirigem as Três Grandes companhias automotivas e os legisladores que impensadamente as protegeram por tanto tempo. Ainda assim, eu não quero ver empregos destruídos. Mas se for para os contribuintes darem dinheiro para Detroit, nós não devemos confiar o dinheiro a pessoas que arruinaram suas empresas.

Você quer meus dólares de impostos? Então eu quero ver os planos precisos de produção e os prazos para tornar híbridos todos nossos carros e caminhões em 36 meses. Eu quero que toda companhia automotiva socorrida adote motores híbridos elétricos, porque nada melhoraria mais as emissões e o consumo -e também estimular uma nova indústria criadora de empregos para o século 21: baterias.

Grandes baterias capazes de armazenar eletricidade para transporte e geração eólica e solar são os possibilitadores indispensáveis da Internet de Energia do futuro. Qualquer resgate a Detroit deve atender a essa meta.

Uma grande eletrificação dos motores nos veículos fabricados nos Estados Unidos "induziria um crescimento e investimento explosivos no setor doméstico de baterias", disse Karsner. Europa, Japão e China já dominam esse setor. Ele é chave para tecnologia limpa -e no final nossa competitividade nacional. Nós não podemos nos permitir nos tornarmos importadores de baterias no século 21 da mesma forma que fomos importadores de petróleo no século 20.

O mesmo se aplica aos planos de Barack Obama para um estímulo verde em eficiência de energia e infra-estrutura. Não faz sentido gastar dinheiro em infra-estrutura verde -ou resgatar Detroit visando estimular a produção de carros mais eficientes em consumo de combustível, se não combinado com um imposto sobre carbono que no final mudaria o comportamento do consumidor.

Muitas pessoas dirão para Obama que tributar o carbono ou a gasolina agora "não tem chance de sucesso". Errado. É o único modo de começar. É o que mudará o jogo. Se você deseja ver para onde o adiamento nos levou, visite Detroit. A ausência de imposto sobre carbono ou maior imposto sobre a gasolina fez com que toda vez que o preço da gasolina caísse para US$ 1 ou US$ 2 o galão, os consumidores voltassem a comprar carros beberrões. E Detroit simplesmente alimentou o vício delas -sem nunca se comprometer a um verdadeiro ajuste da eficiência de energia de sua frota. Descanse em paz.

Se Obama pretende supervisionar um estímulo bem-sucedido à infra-estrutura, então ele terá que incluir não apenas um imposto sobre o carbono -o tornando neutro para a receita e deduzindo tudo dos impostos descontados na folha- mas também novos padrões que exigirão gradualmente que as empresas de utilidade pública e construtoras em Estados que receberem dinheiro construam usinas, prédios comerciais e lares dramaticamente mais eficientes em energia. Isso também criaria indústrias totalmente novas.

Não vamos medir palavras: a presidência Obama será moldada de muitas formas pela forma como gastar este estímulo. Eu estou certo de que ele articulará as metas certas. Mas se os meios -os sinais de preço, condições e padrões- que ele impuser ao seu estímulo não forem tão criativos, ousados e duros como suas metas, ele não servirá para nada.

O resultado é que nossos filhos se lembrarão do estímulo de Obama ou como o fardo de sua existência ou como o investimento de suas vidas. Vamos esperar que seja o segundo. Eu gosto bem mais do título desse livro.

O capitalismo tentou romper seus limites históricos e criou um novo 1929, ou pior.


"Não quero parecer um pastor com a sua Bíblia marxista, mas quero ler uma passagem de O Capital: o verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital; é o fato de que, nela, são o capital e a sua própria valorização que constituem o ponto de partida e a meta, o motivo e o fim da produção. O meio empregado - desenvolvimento incondicional das forças sociais produtivas - choca constantemente com o fim perseguido, que é um fim limitado: a valorização do capital existente".


Texto veículado pela Agência Carta Maior.

Leia a íntegra da palestra do economista francês François Chesnais feita em setembro, em Buenos Aires.

Nesta apresentação feita em 18 de Setembro em Buenos Aires, o economista marxista francês François Chesnais expõe a forma como o capitalismo, na sua longa fase de expansão, tentou superar os seus limites imanentes. E como todas essas tentativas contribuíram para criar agora uma crise muito maior. Comparável à de 1929, mas que ocorre num contexto totalmente novo.

A tese que vou apresentar defende que no ano passado produziu-se uma verdadeira ruptura, que deixa para trás uma longa fase de expansão da economia capitalista mundial; e que essa ruptura marca o início de um processo de crise com características que são comparáveis à crise de 1929, ainda que venha a desenvolver-se num contexto muito diferente. A primeira coisa que é preciso recordar é que a crise de 1929 se desenvolveu como um processo: um processo que começou em 1929, mas cujo ponto culminante se deu bastante depois, em 1933, e que logo abriu caminho a uma longa fase de recessão.

Digo isto para sublinhar que, na minha opinião, estamos a viver as primeiras etapas, mas realmente as primeiras, primeiríssimas etapas de um processo dessa amplitude e dessa temporalidade. E que o que nestes dias está acontecendo e tem como cenário os mercados financeiros de Nova York, de Londres e de outros grandes centros bolsistas, é somente um aspecto - e talvez não seja o aspecto mais importante - do que se deve interpretar como um processo histórico. Estamos diante de um desses momentos em que a crise vem exprimir os limites históricos do sistema capitalista. Não se trata de alguma versão da teoria da "crise final" do capitalismo, ou algo do estilo.

Do que sim se trata, na minha opinião, é de entender que estamos confrontados com uma situação em que se exprimem estes limites históricos da produção capitalista. Não quero parecer um pastor com a sua Bíblia marxista, mas quero ler-vos uma passagem de O Capital: "O verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital; é o fato de que, nela, são o capital e a sua própria valorização que constituem o ponto de partida e a meta, o motivo e o fim da produção; o fato de que aqui a produção é só produção para o capital e, inversamente, não são os meios de produção simples meios para ampliar cada vez mais a estrutura do processo de vida da sociedade dos produtores.

Daí que os limites dentro dos quais tem de mover-se a conservação e a valorização do valor-capital, a qual descansa na expropriação e na depauperção das grandes massas de produtores, choquem constantemente com os métodos de produção que o capital se vê obrigado a empregar para conseguir os seus fins e que tendem para o aumento ilimitado da produção, para a produção pela própria produção, para o desenvolvimento incondicional das forças produtivas do trabalho.

O meio empregado - desenvolvimento incondicional das forças sociais produtivas - choca constantemente com o fim perseguido, que é um fim limitado: a valorização do capital existente. Por conseguinte, se o regime capitalista de produção constitui um meio histórico para desenvolver a capacidade produtiva material e criar o mercado mundial correspondente, envolve ao mesmo tempo uma contradição constante entre esta missão histórica e as condições sociais de produção próprias deste regime. (1)Bom, certamente que há algumas palavras que hoje já não utilizamos, como "missão histórica"... Mas creio que o que vamos ver nos próximos anos vai dar-se precisamente na base de já ter sido criado em toda a sua plenitude esse mercado mundial intuído por Marx.

Quer dizer, temos um mercado e uma situação mundial diferentes da de 1929, porque nessa altura países como a China e a Índia eram ainda semi-coloniais, enquanto que agora já não têm esse caráter; são grandes países que, mais além de terem um caráter combinado que requer uma análise cuidadosa, são agora participantes de pleno direito dentro de uma economia mundial única, uma economia mundial unificada num grau desconhecido até esta etapa da história. A citação pode ajudar-nos a entender o momento atual, e a crise que se iniciou precisamente neste marco de um só mundo. Um novo tipo de crise Na minha opinião, nesta nova etapa, a crise vai desenvolver-se de tal modo que as primeiras e realmente brutais manifestações da crise climática mundial vão combinar-se com a crise do capital enquanto tal.

Entramos numa fase em que se coloca realmente uma crise da humanidade, dentro de complexas relações nas quais se incluem também os acontecimentos bélicos, mas o mais importante é que, mesmo excluindo a explosão de uma guerra de grande amplitude que, no presente momento, só podia ser uma guerra atómica, estamos confrontados com um novo tipo de crise, com uma combinação desta crise econômica, que começou, com uma situação na qual a natureza, tratada sem a menor contemplação e atacada pelo homem no marco do capitalismo, reage agora de forma brutal. Isto é uma coisa quase excluída das nossas discussões, mas que vai impor-se como um fato central.

Por exemplo, muito recentemente, lendo o trabalho de um sociólogo francês, fiquei a saber que os glaciares andinos dos quais flui a água com que se abastecem La Paz e El Alto estão esgotados em mais de 80%, e estima-se que dentro de 15 anos La Paz e El Alto não vão ter água... e, no entanto, isto é algo que nunca foi tratado, nunca se discutiu um fato de tamanha magnitude que pode fazer com que a luta de classes na Bolívia, tal como a conhecemos, mude substancialmente - por exemplo fazendo com que a tal controversa mudança da capital para Sucre se imponha como uma coisa "natural", porque acabou a água em La Paz.

Estamos entrando num período desse tipo e o problema é que quase não se fala disso, enquanto que nos ambientes revolucionários continuam a discutir-se coisas que neste momento são minúcias, questões completamente mesquinhas em comparação com os desafios que temos pela frente. Limites imanentes do capitalismo Para continuar com a questão dos limites do capitalismo, quero chamar a atenção para uma citação de Marx, imediatamente anterior à já citada: "A produção capitalista aspira constantemente a superar estes limites imanentes a ela, mas só pode superá-los recorrendo a meios que voltam a levantar diante dela estes mesmo limites, e ainda com mais força".

Esta indicação introduz-nos a análise e a discussão dos meios a que se recorreu, durante os últimos 30 anos, para superar os limites imanentes do capital. Esses meios foram, em primeiro lugar, todo o processo de liberalização das finanças, do comércio e do investimento, todo o processo de destruição das relações políticas surgidas na raíz da crise de 29 e dos anos 30, depois da Segunda Guerra Mundial e das guerras de libertação nacional... Todas essas relações, que exprimiam o domínio do capital mas representavam ao mesmo tempo formas de controle parcial do mesmo capital, foram destroçadas e, por algum tempo, pareceu ao capital que com isto ficavam superados os limites postos à sua atuação.

A segunda forma que se escolheu para superar esses limites imanentes do capital foi recorrer, numa escala sem precedentes, à criação de capital fictício e de meios de crédito para ampliar uma procura insuficiente no centro do sistema. E a terceira forma, a mais importante historicamente para o capital, foi a reincorporação, enquanto elementos plenos do sistema capitalista mundial, da União Soviética e seus "satélites", e da China. Só no marco das resultantes destes três processos é possível captar a amplitude e a novidade da crise que se inicia. Liberalização, mercado mundial, competição... Comecemos por nos interrogar sobre o que significou a liberalização e a desregulação levadas a cabo à escala mundial, com a incorporação do antigo "campo" soviético e a incorporação e a modificação das relações de produção na China...

O processo de liberalização e desregulação significou o desmantelamento dos poucos elementos reguladores que se tinham construído no marco internacional ao sair da Segunda Guerra Mundial, para entrar num capitalismo totalmente desregulamentado. E não só desregulamentado, como também um capitalismo que criou realmente o mercado mundial no pleno sentido do termo, convertendo em realidade o que era em Marx uma intuição ou antecipação. Pode ser útil precisar o conceito de mercado mundial e ir talvez mais além da palavra mercado. Trata-se da criação de um espaço livre de restrições para as operações do capital, para produzir e realizar mais-valias, tomando este espaço como base e processo de centralização de lucros à escala verdadeiramente internacional.

Esse espaço aberto, não homogêneo mas com uma redução drástica de todos os obstáculos à mobilidade do capital, essa possibilidade para o capital de organizar à escala universal o ciclo de valorização, está acompanhado de uma situação que permite pôr em competição entre si os trabalhadores de todos os países. Quer dizer, sustenta-se no fato de o exército industrial de reserva ser realmente mundial e de ser o capital como um todo que rege os fluxos de integração ou de repulsão, nas formas estudadas por Marx.

Este é então o marco geral de um processo de "produção para a produção" em condições em que a possibilidade de a humanidade e as massas do mundo acederem a essa produção é totalmente limitada... e, portanto, torna-se cada vez mais difícil o encerramento com êxito do ciclo de valorização do capital, para o capital no seu conjunto, e para cada capital em particular. E por isso se ampliam e se fazem mais determinantes no mercado mundial "as leis cegas da competição".

Os bancos centrais e os governos podem proclamar que vão pôr-se de acordo entre si e colaborar para impedir a crise, mas não creio que se possa introduzir a cooperação no espaço mundial convertido em cenário de uma tremenda competição entre capitais.E agora, a competição entre capitais vai muito mais além das relações entre os capitais das partes mais antigas e mais desenvolvidas do sistema mundial, com os sectores menos desenvolvidos do ponto de vista capitalista.

Porque sob formas particulares e inclusive muito parasitárias, no marco mundial deram-se processos de centralização do capital por fora do marco tradicional dos centros imperialistas: em relação com eles, mas em condições que também introduzem algo totalmente novo no marco mundial. Durante os últimos 15 anos, e em particular durante a última etapa, desenvolveram-se, em determinados pontos do sistema, grupos industriais capazes de integrar-se como sócios de pleno direito nos oligopólios mundiais.

Tanto na Índia como na China constituíram-se verdadeiros e fortes grupos econômicos capitalistas. E, no plano financeiro, como expressão do rentismo e do parasitismo puro, os chamados Fundos Soberanos converteram-se em importantes pontos de centralização do capital sob a forma de dinheiro, que não são meros satélites dos Estados Unidos, têm estratégias e dinâmicas próprias e modificam de muitas maneiras as relações geopolíticas dos pontos-chave em que a vida do capital se faz e fará. Por isso, outro elemento a ter em conta é que esta crise tem como outra de suas dimensões a de marcar o fim da etapa em que os Estados Unidos podiam atuar como potência mundial sem comparação... Na minha opinião, saímos do momento que analisava Mészáros no seu livro de 2001, e os Estados Unidos vão ser submetidos a uma prova: num prazo muito curto, todas as suas relações mundiais modificaram-se e terão, no melhor dos casos, de renegociar e reordenar todas as suas relações com base no facto de que têm de partilhar o poder.

E isto, evidentemente, é algo que nunca aconteceu de forma pacífica na história do capital...Então, primeiro elemento: um dos métodos escolhidos pelo capital para superar os seus limites transformou-se em fonte de novas tensões, conflitos e contradições, indicando que uma nova etapa histórica vai abrir caminho através desta crise. Criação descontrolada de capital fictício O segundo meio utilizado para superar os limites do capital das economias centrais foi que todas elas recorreram à criação de formas totalmente artificiais de ampliação da procura efectiva, as quais, somando-se a outras formas de criação de capital fictício, geraram as condições para a crise financeira que se desenvolve hoje.

No artigo que os companheiros de Herramienta tiveram a gentileza de traduzir para o espanhol e publicar, abordei com alguma profundidade esta questão do capital fictício e as novas formas que se deram dentro do próprio processo de acumulação do capital fictício.Para Marx, o capital fictício é a acumulação de títulos que são "sombra de investimentos" já feitos mas que, como títulos de bônus e de ações, aparecem com o aspecto de capital aos seus detentores. Não o são para o sistema como um todo, para o processo de acumulação, mas são-no sim para os seus detentores e, em condições normais de fechamento de processos de valorização do capital, rendem aos seus detentores dividendos e juros.

Mas o seu caráter fictício revela-se em situações de crise. Quando ocorrem crises de sobreprodução, falência de empresas, etc., descobre-se que esse capital não existia...Por isso também pode ler-se às vezes nos jornais que tal ou qual quantidade de capital "desapareceu" nalgum tropeço bolsista: essas quantias nunca tinham existido como capital propriamente dito, apesar de, para os detentores dessas ações, representarem títulos que davam direito a dividendos e juros, a receber lucros...

Evidentemente, um dos grandes problemas de hoje é que, em muitíssimos países, os sistemas de aposentadoria estão baseados em capital fictício, com pretensões de participação nos resultados de uma produção capitalista que pode desaparecer em momentos de crise. Toda a etapa de liberalização e de globalização financeira dos anos 80 e 90 esteve baseada em acumulação de capital fictício, sobretudo em mãos de fundos de investimento, fundos de pensões, fundos financeiros... E a grande novidade desde finais ou meados dos anos 90 e ao largo dos anos 2000 foi, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em particular, o impulso extraordinário que se deu à criação de capital fictício na forma de crédito.

De crédito a empresas, mas também e sobretudo de créditos às famílias, crédito ao consumo e sobretudo créditos hipotecários. E isso fez dar um salto na massa de capital fictício criado, dando origem a formas ainda mais agudas de vulnerabilidade e de fragilidade, inclusive diante de choques menores, inclusive diante de episódios absolutamente previsíveis. Por exemplo, com base em tudo estudado anteriormente, sabia-se que um boom imobiliário acaba; que inexoravelmente chega um momento em que, por processos muito bem estudados, termina; e, se pode até ser relativamente compreensível que no mercado de ações existisse a ilusão de que não havia limites para a alta no preço das acções, com base em toda a história anterior sabia-se que que isso não podia ocorrer no setor imobiliário: quando se trata de edifícios e de casas é inevitável que chegue o momento em que o boom acaba.

Mas colocaram-se em tal situação de dependência, que esse acontecimento completamente normal e previsível transformou-se numa crise tremenda. Porque a tudo o que já disse, juntou-se o fato de que durante os dois últimos anos os empréstimos eram feitos a famílias que não tinham a menor possibilidade de pagar. Além disso, tudo isso se combinou com as novas "técnicas" financeiras, permitindo-se assim que os bancos vendessem bônus em condições tais que ninguém podia saber exatamente o que estava a comprar... até a explosão dos subprime em 2007. Agora estão desmontando este processo. Mas dentro dessa desmontagem, há processos de concentração do capital financeiro.

Quando o Bank Of America compra o Merrill Lynch, estamos diante de um processo de concentração clássico. E vemos além disso estes processos de estatização das dívidas, que implicam na criação imediata de mais capital fictício. O Federal Reserve dos Estados Unidos cria mais capital fictício para manter a ilusão de um valor do capital que está à beira de desmoronar, com a perspectiva de ter, em algum momento dado, a possibilidade de aumentar fortemente a pressão fiscal, mas na realidade não pode fazê-lo porque isso significaria o congelamento do mercado interno e a aceleração da crise enquanto crise real.Assistimos, pois, a uma fuga em frente que não resolve nada. Dentro desse processo existe também o avanço dos Fundos Soberanos, que procuram modificar a repartição intercapitalista dos fluxos financeiros a favor dos sectores rentistas que acumularam estes fundos. E isto é um fator de perturbação ainda maior no processo.

Quero recordar, para terminar este ponto, que esse déficit comercial de cinco pontos do PIB é o que confere aos Estados Unidos a particularidade desse lugar-chave para a concretização do ciclo do capital no momento da realização da mais-valia, para o processo capitalista no seu conjunto. Confrontados agora com uma quase inevitável retração econômica, coloca-se como a grande interrogação se, num curto prazo, a procura interna chinesa poderá passar a ser o lugar que garanta esse momento de realização da mais-valia que se dava nos Estados Unidos. A amplitude da intervenção do Tesouro é muito forte e conseguiu que a contração da atividade nos EUA e a queda das importações tenha sido até agora muito limitada.

O problema é saber quanto tempo se poderá ter como único método de política econômica criar mais e mais liquidez... Será possível que não haja limites à criação de capital fictício sob a forma de liquidez para manter o valor do capital fictício já existente? Parece-me uma hipótese demasiado otimista, e entre os próprios economistas norte-americanos, muitos duvidam. Super-acumulação na China? Para terminar, chegamos à terceira maneira pela qual o capital superou os seus limites imanentes, que é definitivamente a mais importante de todas e levanta as interrogações mais interessantes. Refiro-me à extensão, em particular para a China, de todo o sistema de relações sociais de produção do capitalismo.

Algo que Marx mencionou nalgum momento como possibilidade, mas que só se fez realidade durante os últimos anos. E realizou-se em condições que multiplicam os fatores de crise. A acumulação do capital na China fez-se com base em processos internos, mas também com base em algo que está perfeitamente documentado, mas pouco comentado: a transferência de uma parte importantíssima do Setor II da economia, o setor da produção de meios de consumo, dos Estados Unidos para a China. E isto tem muito a ver com o grosso dos déficits norte-americanos (o déficit comercial e o fiscal), que só poderiam reverter-se por meio de uma "reindustrialização" dos Estados Unidos.

Isto significa que se estabeleceram novas relações entre os Estados Unidos e a China. Já não são as relações de uma potência imperialista com um espaço semicolonial. Os Estados Unidos criaram relações de um novo tipo, que agora têm dificuldades de reconhecer e de assumir. Com base no superávit comercial, a China acumula milhões e milhões de dólares, que logo empresta aos Estados Unidos. Temos uma ilustração das consequências que isto traz com a nacionalização dessas duas entidades chamadas Fannie Mae e Freddy Mac: ao que parece, a banca da China tinha 15% dos fundos dessas duas entidades e comunicou ao governo americano que não aceitaria a sua desvalorização. São relações internacionais de tipo completamente novo. Mas que ocorre no seio da própria China? É a questão mais decisiva para a próxima etapa da crise.

Na China deu-se internamente um processo de competição entre capitais, que se combinou com processos de competição entre sectores do aparelho político chinês, e de competição para atrair empresas estrangeiras; tudo isso resultou num processo de criação de imensas capacidades de produção, além de violentar a natureza numa escala enorme: na China concentra-se uma super-acumulação de capital que num momento dado se tornará insustentável. Na Europa, é evidente a tendência a uma aceleração da destruição de capacidades produtivas e de postos de trabalho, para transferir-se para o único paraíso do mundo capitalista que é a China. Considero que esta transferência de capitais para a China significou uma reversão de processos anteriores de uma alta da composição orgânica do capital.

A acumulação é intensiva em meios de produção e é intensiva e muito delapidadora da outra parte do capital constante, quer dizer, das matérias primas. A maciça criação de capacidades de produção no Setor I foi acompanhada por todos os mecanismos e o impulso que caracterizam o crescimento da China, mas o mercado final para sustentar toda essa produção é o mercado mundial, e uma retração deste colocará em evidência essa super-acumulação do capital.Alguém como Aglietta, que estudou isto especificamente, afirma que realmente há super-acumulação, há um processo acelerado de criação produtiva na China, um processo que, no momento em que terminar - e tem de terminar - a realização de toda essa produção vai levantar problemas. Além disso, a China é realmente um lugar decisivo, porque até pequenas variações na sua economia determinam a conjuntura de muitos outros países no mundo. Foi suficiente que a procura chinesa por bens de investimento caísse um pouco, para que a Alemanha perdesse exportações e entrasse em recessão. As "pequenas oscilações" na China têm repercussões fortíssimas noutros lugares, como deveria ser evidente no caso da Argentina.

Para continuar a pensar e a discutir E regresso ao que disse no início. Ainda que sejam comparáveis, as fases desta crise serão diferentes das de 29, porque naquela época a crise de superprodução dos Estados Unidos verificou-se desde os primeiros momentos. Depois aprofundou-se, mas soube-se de imediato que se estava diante de uma crise de superpodução. Agora, em contrapartida, estão adiando esse momento com diversas políticas, mas não vão poder fazê-lo muito mais. Simultaneamente, e como ocorreu também na crise de 29 e nos anos 30, ainda que em condições e sob formas diferentes, a crise combinar-se-á com a necessidade, para o capitalismo, de uma reorganização total da expressão das suas relações de forças econômicas no marco mundial, marcando o momento no qual os Estados Unidos verão que a sua superioridade militar é somente um elemento, e um elemento bastante subordinado, para renegociar as suas relações com a China e outras partes do mundo.

Ou vai chegar o momento no qual dará o salto para uma aventura militar de consequência imprevisíveis. Por tudo isto, concluo que vivemos muito mais que uma crise financeira, mesmo estando agora nessa fase. Estamos diante de uma crise muitíssimo mais ampla. Ora bem, tenho a impressão, pelo tom das diferentes perguntas e observações que me fizeram, que muitos são da opinião que estou a pintar um cenário de tipo catastrofista, de desmoronamento do capitalismo... Na realidade, creio que estamos diante do risco de uma catástrofe, mas já não do capitalismo, e sim de uma catástrofe da humanidade.

De certa forma, se tomarmos em conta a crise climática, possivelmente já existe algo assim...A minha opinião (junto com Mészáros, por exemplo, mas somos muito poucos os que damos importância a isto) é que estamos diante de um perigo iminente. O dramático é que, de momento, isto afeta diretamente populações que não são levadas em conta: o que está ocorrendo no Haiti parece que não tem a menor importância histórica; o que acontece em Bangladesh não tem peso mais além da região afetada; muito menos o que acontece na Birmânia, porque o controle da Junta militar impede que ultrapasse as suas fronteiras. E o mesmo na China: discutem-se os índices de crescimento, mas não as catástrofes ambientais, porque o aparelho repressivo controla as informações sobre as mesmas.

E o pior é que essa "opinião", que é constantemente construída pelos meios de comunicação, está interiorizada muito profundamente, inclusive em muitos intelectuais de esquerda. Tinha começado a trabalhar e a escrever sobre tudo isto, mas com o começo desta crise, de alguma forma tive de voltar a ocupar-me das finanças, ainda que não o faça com muito gosto, porque o essencial parece-me que se joga num plano diferente. Para terminar: o fato de que tudo isto ocorre depois desta fase tão larga, sem paralelo na história do capitalismo, de 50 anos de acumulação ininterrupta (salvo um pequeníssima ruptura em 1974/1975), assim como também tudo o que os círculos capitalistas dirigentes, e em particular os bancos centrais, aprenderam da crise de 29, tudo isso faz com que a crise avance de maneira bastante lenta.

Desde setembro do ano passado, o discurso dos círculos dominantes vem afirmando, uma e outra vez, que "o pior já passou", quando o certo é que, uma e outra vez, "o pior" estava por vir. Mas insisto no risco de minimizar a gravidade da situação, e sugiro que nas nossas análises e na forma de abordar as coisas deveríamos incorporar a possibilidade, no mínimo a possibilidade, de que inadvertidamente estejamos também interiorizando esse discurso de que, definitivamente, "não acontece nada"...

Para Saber Mais

Vale a pena entender o contexto histórico, econômico e social do mundo. Para isso existem inumeros textos publicados pelos maiores estudiosos, que atravessam os anos intactos em nossa memória.

Para quem quiser entender toda essa forma de pensamento, segue aqui uma boa sugestão:

http://www.marxists.org/

Uma das maiores bibliotecas virtuais já cadastradas na internet.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pobreza cai, mas miséria aumenta na América Latina

Santiago do Chile, 9 dez (EFE).- A pobreza diminuiu levemente na América Latina e no Caribe em 2008, mas ainda afeta 182 milhões de pessoas, equivalentes a 33,2% da população, segundo um relatório divulgado hoje em Santiago pela Comissão Econômica da América Latina e o Caribe (Cepal).

O número representa quase um ponto a menos do que os 34,1% de pobres (184 milhões) que havia na região em 2007, de acordo com as projeções do Panorama Social 2008, apresentado hoje na capital chilena pela Cepal.

No entanto, a indigência ou pobreza extrema teve um pequeno aumento, ao passar de 12,6% em 2007 (68 milhões de pessoas) para 12,9% (71 milhões), segundo os números projetados para o 2008.

O organismo das Nações Unidas adverte ainda que por efeitos da atual crise internacional, o emprego se estagnará no próximo ano, especialmente entre os trabalhadores por conta própria e informais, o que se traduzirá em um aumento, embora moderado, dos pobres e indigentes.

O documento, que foi apresentado pela secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, assinala que os avanços contra a pobreza e a indigência tiveram em 2008 um comportamento menos propício que no qüinqüênio 2002-2007.

Nesse período o número de pessoas que vivem na pobreza diminuiu 9,9% (37 milhões de pessoas), enquanto o de indigentes caiu 6,8% (29 milhões de pessoas).

Segundo a Cepal, os números de pobreza e indigência refletem o impacto do aumento da inflação registrado desde princípios de 2007 e, especialmente, a alta nos preços dos alimentos, embora nos últimos meses estes e os dos combustíveis tenham parado de subir.

Reportagem veículada pela Agência EFE.

TRABALHADORES OCUPAM FÁBRICA EM CHICAGO

A classe operária dos Estados Unidos começa a tomar iniciativas. Em Chicago, 250 trabalhadores da "Republic Windows and Doors", ameaçada de encerramento, tomaram o destino nas suas próprias mãos e ocuparam a fábrica.

Por outro lado, generalizam-se nos EUA movimentos de massa a fim de impedir arrestos de casas pelos banqueiros. Os vizinhos do proprietário arrestado muitas vezes reinstalam o mobiliário retirado da casa da vítima para que a família continue a habitá-la.

À medida que a crise capitalista avança, tais iniciativas tendem a multiplicar-se — mas os media portugueses não dão este tipo de notícia.

Ver notícia em MRZine .

Notícia publicada no site portugues http://resistir.info/

Papai Noel Velho Batuta


O espírito natalino contagia toda a burguesia. Mal entendidos são remediados, desculpas são aceitas, e mais admirável do que isso, oferendas são entregues. Oferendas essas que possuem um valor inestimável, pois contemporizam horas, dias e até meses para serem transformadas em relíquias de alto valor. A indústria natalina comandada com punhos de ferro pelo nobre velhinho funciona para atender a esta demanda das classes burguesas, que aguardam ansiosamente pelo natal todos os anos.

Noel espelha-se em Orson Welles e vai muito além de um simples “Cidadão Kane”. A insaciabilidade do idoso o torna um oportunista dos menos afortunados, escravizando-os e alistando duendes para o seu exército de trabalhadores. O momento com a família que deveria ser celebrado com exatidão perde-se em meio às pilhas de embrulhos, mecanicamente realizados pelos duendes do natal.

Máquinas natalinas estão prestes a tomar de assalto os corações e mentes da burguesia. “Franquias Noel” foram abertas em todo mundo. Enxurradas de vestes, calçados e utensílios futuristas serão postos à venda e todo o circo midiático espera o aperto de um botão para começar a circular.

Os abastados tornam-se mais americanos nesta época. Esbaldam-se na cinematografia natalina e destinam parte das oferendas as indústrias Noel de cinema. Os bolsos do velhinho pesam de tanto lucro.

Infelizmente os planos do Papai Noel este ano podem ir por água baixo. Já vem sendo arquitetado há alguns anos um plano carinhosamente chamado de recessão. O Grinch (personagem já conhecido que odeia o Natal e faz de tudo para impedir a comemoração da data festiva) dessa vez foi o próprio burguês comedor de salame e amante do natal. Nos anos 80 a burguesia conheceu e passou a admirar o fruto de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, o liberalismo econômico. Apesar de não parecer foi nessa época que o império de “Papi Noel” começaria a ruir.

Revirando-se em sua enorme cama, o velhinho procura entender o motivo desse natal que está por vir, ser um dos mais fracos comercialmente após a grande crise de 29.

Apresentamos Chester! Especiaria natalina que provavelmente estará fora de várias mesas. Esse delicioso parente do frango dever ser cautelosamente recheado, com os ingredientes específicos para assim alimentar as bocas oportunistas das mesas. Caso você exagere no recheio os degustadores plantonistas certamente irão se sentir mal e pior, irão espalhar que seus dotes culinários são obsoletos.

Apresentamos o Mercado de Capital! Especiaria burguesa que provavelmente estará fora de circulação daqui a alguns anos. Esse temperado mundo de fluxo monetário seduz os olhos dos burgueses mais polpudos e de suas pequenas crias. Assim como o Chester, deve-se tomar cautela com o “recheio” econômico. O risco de acumular capital ou recheio deliberadamente pode ser fatal. Uma bolha e PUM! Tudo se perde com apenas um estouro. Os degustadores da bolsa são os chamados especuladores, sujeitos de má fé que lucram com o azar dos outros. Espalham para todo o lado que alguém irá se dar mal e assim como no caso do falatório na mesa do jantar natalino espalham por aí que tempos ruins virão.

O que isso tem haver com o Papai Noel? Tudo!

Seus anões irão trabalhar menos, pois o velhinho não terá como bancar suas pequeninas máquinas. Os burgueses sem um tostão não irão querer os produtos do homem do Pólo Norte que, por efeito da crise estarão bem mais caros. E por fim o consumo natalino será freado por aqueles que mais gostam de ajudar o “Velho Batuta”, a burguesia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

ABSTRATIZAÇÃO DA VIDA REAL


Fora construído pelo homem, levantado em grandes pilares a imagem de um vulto que toma de rapina as particularidades de cada individuo. A mercadoria é o objeto de desejo de uma sociedade que já se esqueceu de distinguir o que realmente ela necessita e, o que é fetiche.

A cada martelada do operário o artefato produzido lhe parece mais estranho, o domina deforma a sugar todo o seu valor, este que é decretado pelo seu dono, o mesmo que acusa sistemas de fuga de realizar a pregação da igualdade como meios de uma existência sem vida. Mas esse mesmo dono não enxerga o quanto tudo está igual ao seu redor, e como o próprio ser “racional” criou uma massa robotizada por imagens vindas através de quadrados cada vez maisfantasiosos.

O obelisco do capital se estende na forma de caridades e oportunidades, desterrando homens e mulheres, marionetes controladas por ficções cada vez mais tentadoras. Todas as flutuações do mercado parecem vir de longínquas galáxias e nunca das próprias mãos dos seres criadores, lobistas que perpetuam o consumo dentro da alma do individuo.

A vivencia do real se torna para a sociedade massificada um embelezamento de encenações realizadas pelos próprios atores do irreal que transportam a abstração paranóica de uma história inexistente.

Toda devoção imposta ao homem o torna um militante do consumo padronizado pela mercadoria, esta sempre apresentada por ilusões tentadoras que as tornam reais, subjetivando a capacidade de quem as construiu.