quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A verdadeira geração X

Thomas L. Friedman. Colunista do The New York Times

Ultimamente venho pensando muito no livro "The Greatest Generation" (a maior geração) de Tom Brokaw, aquele clássico sobre nossos pais e seus sacrifícios incríveis durante a Segunda Guerra Mundial. Foi nisso em que pensei: que livro nossos filhos escreverão sobre nós? "A Geração Mais Gananciosa?" "A Geração Complacente?" Ou talvez: "A Geração Subprime: Como meus pais resgataram a si mesmos de seus excessos debitando tudo no meu cartão de crédito".

Nossos filhos deveriam ser muito mais radicais do que são hoje. Eu entendo por que não são. Eles estão preocupados demais apenas em conseguir um emprego ou pagar o ensino do próximo semestre. Mas não devemos considerar o quietismo deles como licença para fazermos o que quisermos com esse dinheiro de resgate. Eles terão que pagar por esse dinheiro. E, portanto, temos uma obrigação incrivelmente pesada de assegurar que não apenas gastaremos sabiamente cada dólar do estímulo, mas também com um olho voltado à criação de novas tecnologias.

Nós precisamos não apenas resgatar nossas indústrias do passado, mas construir as indústrias do futuro -oferecer o tipo de grande pensamento e tomada de risco que transforma enormes desafios em oportunidades que mudam o mundo. Foi isso o que tornou grande a Maior Geração. Esse dinheiro não pode servir apenas para remendar nossos calhambeques.

"Lembrem-se, esse dinheiro não será neutro", disse Andy Karsner, o ex-secretário assistente de energia dos Estados Unidos. "Nós estamos falando em direcionar um volume sem precedente de dinheiro para nossos setores de habitação, energia, transporte e infra-estrutura. Esse dinheiro ou fortalecerá os agentes encarregados e calcificará o status quo de energia, ou facilitará a transformação econômica que buscamos. O estímulo ou será as células brancas do sangue que nos curarão ou as células malignas que continuarão minando nossa força."

Vamos ser específicos. Quando se trata de Detroit, meus pontos de vista são claros: nós devíamos falar em "fiança", não "resgate", em relação às pessoas que dirigem as Três Grandes companhias automotivas e os legisladores que impensadamente as protegeram por tanto tempo. Ainda assim, eu não quero ver empregos destruídos. Mas se for para os contribuintes darem dinheiro para Detroit, nós não devemos confiar o dinheiro a pessoas que arruinaram suas empresas.

Você quer meus dólares de impostos? Então eu quero ver os planos precisos de produção e os prazos para tornar híbridos todos nossos carros e caminhões em 36 meses. Eu quero que toda companhia automotiva socorrida adote motores híbridos elétricos, porque nada melhoraria mais as emissões e o consumo -e também estimular uma nova indústria criadora de empregos para o século 21: baterias.

Grandes baterias capazes de armazenar eletricidade para transporte e geração eólica e solar são os possibilitadores indispensáveis da Internet de Energia do futuro. Qualquer resgate a Detroit deve atender a essa meta.

Uma grande eletrificação dos motores nos veículos fabricados nos Estados Unidos "induziria um crescimento e investimento explosivos no setor doméstico de baterias", disse Karsner. Europa, Japão e China já dominam esse setor. Ele é chave para tecnologia limpa -e no final nossa competitividade nacional. Nós não podemos nos permitir nos tornarmos importadores de baterias no século 21 da mesma forma que fomos importadores de petróleo no século 20.

O mesmo se aplica aos planos de Barack Obama para um estímulo verde em eficiência de energia e infra-estrutura. Não faz sentido gastar dinheiro em infra-estrutura verde -ou resgatar Detroit visando estimular a produção de carros mais eficientes em consumo de combustível, se não combinado com um imposto sobre carbono que no final mudaria o comportamento do consumidor.

Muitas pessoas dirão para Obama que tributar o carbono ou a gasolina agora "não tem chance de sucesso". Errado. É o único modo de começar. É o que mudará o jogo. Se você deseja ver para onde o adiamento nos levou, visite Detroit. A ausência de imposto sobre carbono ou maior imposto sobre a gasolina fez com que toda vez que o preço da gasolina caísse para US$ 1 ou US$ 2 o galão, os consumidores voltassem a comprar carros beberrões. E Detroit simplesmente alimentou o vício delas -sem nunca se comprometer a um verdadeiro ajuste da eficiência de energia de sua frota. Descanse em paz.

Se Obama pretende supervisionar um estímulo bem-sucedido à infra-estrutura, então ele terá que incluir não apenas um imposto sobre o carbono -o tornando neutro para a receita e deduzindo tudo dos impostos descontados na folha- mas também novos padrões que exigirão gradualmente que as empresas de utilidade pública e construtoras em Estados que receberem dinheiro construam usinas, prédios comerciais e lares dramaticamente mais eficientes em energia. Isso também criaria indústrias totalmente novas.

Não vamos medir palavras: a presidência Obama será moldada de muitas formas pela forma como gastar este estímulo. Eu estou certo de que ele articulará as metas certas. Mas se os meios -os sinais de preço, condições e padrões- que ele impuser ao seu estímulo não forem tão criativos, ousados e duros como suas metas, ele não servirá para nada.

O resultado é que nossos filhos se lembrarão do estímulo de Obama ou como o fardo de sua existência ou como o investimento de suas vidas. Vamos esperar que seja o segundo. Eu gosto bem mais do título desse livro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você disse bem Juliano, concordo com você em partes. Até porque mais impostos é o fim do mundo somos escravos dos impostos, o Brasil é o país com a mais alta carga tributária do mundo, e ainda tem mais. Os americanos intriduzem o quento pagam por produtos brasileiros, um monopólio internancional que deveria acabar, talvez a política de Obama mude isso, se fosse um imposto fixo mundialmente para todos, tanto exportação quanto importação com certeza essa crise toda (incluíndo o bem-estar do meio ambiente) estaria mais amenizada.